quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Governo Dilma Sem Maiores Detalhes

     Entra em momento especial para o Brasil, após quase duas décadas de notável prosperidade econômica, o governo de Dilma Rousseff vem acompanhado de uma das maiores crises financeiras da contemporaneidade. No entanto, devido a essa tal prosperidade, uma pequena blindagem foi de fato sentida, no tocante aos efeitos de tal crise no mercado nacional, mesmo porque, a própria economia interna foi o principal agente inibidor. Conciliando mercado externo fraco com protecionismo das indústrias nacionais, gerou-se alta no consumo e por esse motivo, alta na inflação.

     Dilma dá seguimento às políticas econômicas do governo Lula, a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, para em seu lugar entrar o ex-diretor do próprio banco, Alexandre Tombini, deu-se pelo desejo do próprio Lula, de ver Meirelles como vice de Dilma nas eleições de 2010. Porém, o PMDB indicou Michel Temer. Em concordância com o perfil do governo anterior, manteve o ministro da fazenda Guido Mantega, o mesmo que teve que tomar por vezes medidas “desesperadas” para conter a desvalorização do real, injetando dólar no mercado nacional, evidenciando o termo de sua própria autoria a agora famosa “Guerra Cambial”.

     Devido a necessidades externas, pois para conter a inflação no início do governo, que estava cotada em 6,30% no acumulado, portanto acima de meta para 2011 (4,5%), o governo Dilma, começa com aumento da taxa selic em duas vezes de 0,25 ponto. Elevando a taxa para 12,50%. Entretanto, notando os efeitos que a crise financeira das economias européias e dos Estados Unidos fariam, o Copom resolve baixar a taxa selic para 12%, surpreendendo o mercado nacional, e gerando críticas quanto à independência do setor monetário. Chegou-se a dizer que houve interferência política na decisão de diminuir a taxa de juros. De fato, em declarações à imprensa, a presidente fez incentivos ao consumo, e possível corte na taxa selic para que dessa forma, fosse garantido um fortalecimento das indústrias nacionais.

     Em Fevereiro, o governo fez um reajuste no salário mínimo de R$ 510 para R$ 545, abaixo do índice de inflação registrado no ano, em torno de 6,50% no acumulado. Embora tenha negado em campanha que faria cortes, Dilma optou por fazer um corte de R$50 bilhões no Orçamento Federal, porém, esses reajustes mantiveram-se  em  cortar investimentos, e não despesas públicas, que pelo contrário, aumentaram. Com a repentina volta do IPI sobre automóveis importados, o governo recebeu duras críticas, por exagerar no protecionismo de um setor já bastante protegido que são as indústrias nacionais de automóveis, como disse Miriam Leitão.

     É notável a política fiscal do governo de Dilma Rousseff, a contenção nos gastos, que ocorre de forma branda, mas ocorre, deve-se em parte ao governo anterior na promoção de gastos exagerados, que em ano de crise, poderiam comprometer muito do que está sendo feito para suavizar os impactos da crise da zona do euro.

    Certamente o fato mais marcante no atual governo do ano de 2011, foi a impressionante troca de ministros. Parece que o ano será fechado na conta da queda de sete ministros, dentre os quais, seis deles saíram do cargo por denúncias de corrupção, mesmo antes da reforma ministerial que será feita em 2012, já houve uma troca intensa de chefes dos ministérios, que por vezes, fortaleceram a imagem da presidente, que fez questão de transparecer a caráter punitivo de quem não andasse na linha.
     Ocorre que mesmo com a freqüente troca de ministros, não param as acusações e suspeitos, o atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, está sendo questionado por atividades como consultor.  Fora de acusações, mas também pretende sair nas próximas semanas, Fernando Haddad, o ministro da educação desde a era Lula, está certo como candidato para a prefeitura de São Paulo em 2012, e por esse motivo, deve deixar a pasta, em seu lugar o próprio ministro já espera para que o substituto seja indicado. Espera-se que em breve a indicação seja feita pelo PT (dono da pasta).

     A primeira mulher eleita no cargo mais importante no Brasil, em seu primeiro ano como presidente, teve que enfrentar a volatilidade do mercado externo, implicando em medidas, muitas delas de forma repentina, na economia nacional. Escândalos de corrupção com uma quantidade recorde de ministros, a ainda comparação entre ela e o ex-presidente Lula, sem contar da grande expectativa gerada por todos os setores da sociedade, para conhecer os mecanismos do governo de uma presidente, num ano marcante para o Brasil, no que se refere, sobretudo, ao cenário mundial da economia política.

     Neste primeiro ano de governo, Dilma adotou uma postura intermediária no que tange à política externa. Evitando qualquer conflito mesmo com a Síria, que sofreu e ainda sofre diversas sanções, pela falta de providências quanto ao conflito interno, aumentando a cada momento o número de mortos. Entende-se que é muito cedo para dizer como será este governo até seu final. Porém, nota-se tendências um pouco distinta das quais se conheceu no governo Lula, exceto as políticas de assistencialismo que tendem a aumentar, para que continue o efeito no inchaço da classe média (isto é, mais gente saindo de classes inferiores e ingressando na classe média do Brasil, a classe com o maior poder de compra, no sentido quantitativo e, principal setor que faz manutenção do mercado interno)

     Espera-se que após a reforma ministerial, onde alguns ministros ainda do governo do Lula, devem sair, as comparações diminuam um pouco. Embora no terceiro trimestre o crescimento do Brasil tenha sido zero, no fim de 2012 a expectativa é de o desempenho do Brasil na economia seja melhor do que em 2011. As pequenas e médias empresas certamente darão impulso à volta no crescimento. As eleições municipais servirão como termômetro e antes disso, a avaliação do governo Dilma já esteve acima da que foi dada a Lula. Desde já, certo mesmo são os gastos com a Copa de 2014, evento que pode influenciar na reeleição de Dilma, caso seja candidata novamente.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Caráter Político do Imaginário Militar no Brasil


     Mesmo muito antes do golpe de 64, os militares já mostravam à sociedade, sua força. Na revolução de 30, essa perspectiva ficou às claras. Nesse episódio e, a partir daí, o exército brasileiro e sua alta cúpula não agiria sem o apoio necessário, que garantisse sua posição no país. 
     Visto porque, os militares estão interferindo na política e, desse modo, se faz necessário que outras classes os apóiem, por isso, parcelas da sociedade deram seu apoio. Como diz Evaldo Sintoni no livro, Em busca do inimigo perdido: construção da democracia e imaginário militar no Brasil (1930-1964): “Mas os militares, quando intervieram na ordem política, intervieram com o apoio claro das elites civis.” (pág.45)

     Ainda segundo Evaldo Sintoni, a partir da diversidade social do Brasil, e numa perspectiva exatamente inversa da política elitista, a cúpula do grupo dos militares começa sua caminhada. Tomando conhecimento disto, passa então a protestar contra os problemas do país, afim de que dessa forma, tomasse o apoio da opinião pública. Formando uma imagem de jovens defensores do progresso nacional, que defendiam medidas sociais através de decretos, em coerência com a linha ideológica militar.

     O imaginário militar que findará mais tarde na ditadura brasileira, começa bem antes da queda de João Goulart. A forma como os militares dão inicio a ideologização do grupo militar de caráter político, se dá no processo de levar em questão, a realidade vigente do país. No tocante a atuação de algumas das instituições que eram assim formadas por militares. Infiltrando na sociedade, ideias que dariam à mesma a possibilidade de estágios elevados de desenvolvimento. A forma como essas instituições discutiam tais problemas, a importância com que esses eram conduzidos, fez com que tais debates se espalhassem por outros setores da sociedade, não menos organizados. De sindicatos, passando por universidades até partidos políticos.  A ideia de que as forças armadas poderiam conduzir o país, era intensificada na Escola Superior de Guerra.


     Desde Getúlio, a força militar expressava-se de forma concreta. Mesmo porque, o nacionalismo de Getúlio Vargas era frequentemente criticado, diziam eles que o nacionalismo seria semelhante ao comunismo. A interferência militar era sentida por Vargas em questões mesmo de caráter político, no que diz Sintoni. “Vimos que Getúlio Vargas solicitou o aval do Exército para se lançar candidato e, uma vez eleito, teve a sua posse garantida por generais (Estillac Leal, Góes Monteiro, Zenóbio da Costa e, até mesmo, Eurico Gaspar Dutra).” Porém, isso não significa que todo o Exército estivesse apoiando Vargas, mas uma parcela dele, com sempre foram suas atividades em meios aos interesses da sociedade civil, em setores diversos, pois os interesses das próprias forças armadas eram heterogêneos.

     Em 64 a crise permanece, posto que o governo João Goulart não conseguisse mais controlar a inflação e, políticos de um modo geral, que queriam Goulart no poder até o fim (pois se desejava que o poderio político se mantivesse através do sistema democrático, para assim, articular-se um domínio político), não mais desejavam a permanecia do governo, pois os mesmos tomam uma posição contrária e querem a saída de Goulart. Então, com problemas inflacionários, as pressões sociais (que se incitam a tal pressão, geralmente por conta da condição em que vivem no momento, por insatisfação na vida econômica) e por pressão política, começa a ficar evidente a queda de Goulart e a força militar, que chega ao poder da forma mais eficiente, com o apoio popular. É o início da ditadura no Brasil.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Origem "Antológica" da Crise Financeira

     Estamos em 1989, Leste Europeu, começa a cair por terra a famosa economia estadista, sistema ditatorial, o Estado sufoca o trabalhador de uma forma fundamentalmente distinta do que foi proposto por Karl Marx e Friedrich Engels. Era o fim do socialismo real, denominado na época pelo americano Francis Fukuyama, como “o fim da história”.
     Estamos em 2011, o planeta “caminha pisando em ovos”, a crise financeira de proporções mundiais, em curto prazo, é justificada mediante uma crise imobiliária ocorrida em 2008 e 2009 nos Estados Unidos, denominada por uma parcela de analistas como uma “pré-crise”, haja vista o mercado ser amplamente interligado, contaminando bancos e governos, como uma doença viral que se espalha sem remédios combativos para sanar o problema.

     A política de vitória do regime capitalista diante do fim do socialismo real implantou um entusiasmo amplamente difundido no mundo, no início da década de 90, fazendo com que os entusiastas do liberalismo econômico deixassem de lado o que realmente significava o fracasso da economia estadista.  

     Em seu livro “O Colapso da Modernização” Robert Kurz lembra que a suposta derrota de economia adotada pela União Soviética e boa pare do Leste Europeu, simbolizava mais um capítulo para o já de certo modo decadente capitalismo, mesmo porque, na década de 80, países de Terceiro Mundo, viveram um dos episódios mais escuros da economia mundial, a chamada “década perdida” na América Latina, serve como efeito comparativo hoje para a crise vivida pela Europa, Estados Unidos, e outras regiões do globo, posto tamanha é a crise que se vive neste momento.

     De fato, alguns líderes já colocam esta, como a pior crise da história, porque será sentida por muitos anos, certamente.  Embora se tenha cultivado um distanciamento extremo entre os pólos do capitalismo e socialismo, Kurz defende que os dois regimes baseiam-se sob o mesmo aspecto, o trabalho.

     Portanto, o autor expõe a premissa de que com o socialismo extinto, o “oba-oba” dos defensores do liberalismo ajudados pela ciência evoluindo no ritmo dos mercados, trabalhou antologicamente para a queda do próprio regime de liberdade comercial, no sentido de que o relógio mercadológico impõe uma corrida pela mercadoria pronta com a menor contribuição de trabalhadores possíveis, logo, à medida que as forças produtivas mediante à industrialização e cientificização rompem a relação social de trabalho, a relação de compra perde força. Ora, sem trabalho, sem renda, sem consumo, sem escassez de mercadoria, sem a lógica mercadológica.

(...) é muito provável que o mundo burguês do dinheiro total e da mercadoria moderna, cuja lógica constituiu com dinâmica crescente a chamada Era Moderna, entrará já antes de terminar o século XX, numa era das trevas, do caos e da decadência das estruturas sociais, tal como jamais existiu na história do mundo (...) (O Colapso da Modernização, pág. 207)

     O fim do socialismo real significou em parte, não uma vitória do regime capitalista propriamente dito, mas a aceleração para o reconhecimento de ilegitimidade funcional do próprio sistema supostamente vencedor, montando uma perspectiva de que todo o mundo precisaria interligar seus pontos num único sistema, forte, mas ao mesmo inseguro, por agir de forma positiva e negativa atingindo todos os setores do sistema.  

     Há de se convir que a economia estadista não surja com o socialismo extinto no Leste Europeu, que seu mal ou bem estejam necessariamente atrelados a esse episódio, ao mesmo, essa tendência ditatorial surge diferente dos primórdios da economia de Estado. Em períodos antigos, reis, utilizavam-se da economia como amparo para a manutenção do exército e de despesas reais. Mas a economia planificada, que fez surgir a revolta do proletariado, fez com que esse, agisse inconscientemente para sua própria extinção como força ativa amplamente diminuída na produção da mercadoria dentro da sociedade de trabalho.

     O sistema capitalista é um complexo de informações que funcionam como um quebra-cabeça, uma peça errada forma a distorção da imagem. Num turbilhão de incertezas, de “pânico especulativo” neste momento,a única certeza que se tem, provem da necessária reforma funcional, de políticas públicas não tão liberais. Esta proposta não significa o retrocesso em meio ao progresso, mas sim a solução viável diante da década perdida do século XXI.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Povo Brasileiro em 3 versões

     Com uma visão um tanto otimista sobre o processo de modelagem chamado por Darcy Ribeiro como “neobrasileiro”, tanto ele que como Sérgio Buarque de Holanda, aponta se não todos, mas quase a totalidade dos aspectos que explicam o bolo resultado da íntima relação entre as raças. A famosa mestiçagem longamente descrita pelos dois autores chega numa perspectiva otimista, mas ao mesmo tempo, de certo modo, sem uma definição clara do que é o povo brasileiro. Mas que sim, uma mistura tão íntima que se torna impossível dividir claramente parcelas de gêneros.

      Há de se perceber a importância dos primeiros contatos entre índios, negros e portugueses, assim como todo o processo posterior da mistura entre esses povos. Em seu livro, Raízes do Brasil, capítulo 2. Sérgio Buarque de Holanda propõe que um fator fundamental para que os portugueses adotassem relações diretas com os índios, deve-se à sua fraca identidade, ao pouco orgulho racial destes. Diferente dos holandeses, por exemplo.

     Darcy Ribeiro coloca a figura da índia, a figura da mulher mais importante no processo de mestiçagem, pois a partir das relações com os portugueses e com os negros, que começaram a surgir os brasileiros como povo híbrido, havendo neste momento, uma predominância do índio sobre o branco, conferida nesses “neobrasileiros”. Embora se defenda a cordialidade do brasileiro, Darcy Ribeiro expõe uma retrospectiva de conflitos que divergem em certo modo de tal premissa, sinalizando estes de caráter étnicos, sociais, religiosos, econômicos e raciais, iniciando pela Cabanagem chegando a Canudos e prossegue ao longo da história.

     Já Sérgio Buarque de Holanda, começa o capítulo 2, (pág. 44) fazendo uma clara distinção entre o aventureiro e o trabalhador, colocando a partir desta ótica, a figura do colonizador aventureiro, que propondo a adaptar-se ao meio, sem precisar de maiores esforços, apenas se alinhou às condições que a terra oferecia, contribuindo direta e ou indiretamente para o atraso do desenvolvimento da colônia. Como na passagem: “Onde lhes faltasse o pão de trigo, aprendiam a comer o da terra, e com tal requinte que – afirmava Gabriel Soares – a gente de tratamento só consumia farinha de mandioca fresca, feita no dia.”

     Ribeiro, diz que o Brasil é economicamente falando, resultado da ação de quatro gêneros empresariais, embora o principal deles seja a empresa de cunho escravista, exatamente pelo sucesso da efetividade em latifúndios. Holanda concorda no sentido de atribuir à grandiosa quantidade de terra, o sucesso da monocultura da cana-de-açúcar, colocando o insucesso no emprego da mão-de-obra indígena, mas que deu certo com a africana, compreendo este formato agrícola, a unidade de produção, explicitando a dificuldade no uso do arado por conta da floresta mais densa, diferente da floresta na Europa, por exemplo.

     Aliando-se as tais perspectivas, Otto Alcides coloca que a monocultura no Brasil se deu com a implantação do regime da sesmaria, que de fato não obteve sucesso, surgindo em seu lugar verdadeiros latifúndios. Ainda segundo o autor, desenvolveu-se uma tímida produção agrícola de subsistência, responsável em parte, ao crescimento demográfico, de modo que encontra-se nesse tipo de cultura uma manutenção dos privilégios dos latifundiários,  mantendo dessa forma, uma organização social de subordinação.

     Enquanto Otto afirmava que as pequenas lavouras eram mantidas por colonos pobres, mestiços, índios “civilizados”, Buarque expõe que o negro era elemento primordial para o desenvolvimento do latifúndio colonial. Otto coloca ainda que as relações sociais baseadas na produção caracterizavam-se da seguinte forma: semi-escravistas no trabalho de extração na floresta, camponês na pequena lavoura, escravista na monocultura e escravista e de assalariamento na pecuária.

     Ainda de acordo com Otto, os primeiros passos para a estruturação da sociedade brasileira é justificada através do aspecto econômico que de longe sempre foi a maior aspiração do Estado português. A base social compreendida por escravos em contraponto com a outra ponta superior composta pelos senhores donos de grandes propriedades rurais, foi o formato social que garantiu o Brasil como unidade de produção agroexportadora. No entanto, esta organização começou a sofrer com abalos com divergências entre a colônia e o Estado português, que não mais pode permanecer fiel ao pacto colonial, frente à revolução industrial da Inglaterra.

     Em continuidade, o autor diz que o modo capitalista, fez com que o escravismo fosse substituído pelo assalariado. Onde ocorre uma transformação estrutural na sociedade de então, que antes passou da antiga classe cafeeira para a burguesia agrária. Mas que a burguesia comercial só concretizou-se com a abertura dos portos. Já Darcy Ribeiro cita que portos foram criados para a exportação da borracha, por exemplo, isto é, fatores econômicos agiram diretamente para as transformações no aperfeiçoamento de todo o mapa social do Brasil.

     Embora lembrando que os holandeses enriqueceram Recife, Darcy Ribeiro atenta-se para o resto do país, onde a urbanização foi influenciada pela abolição, pelo desemprego na Europa, que fez com que em torno de 7 milhões de europeus imigrassem para o Brasil, atribuindo a esses, o surto da industrialização e contabilizando posteriormente o contingente urbano que crescia de forma acelerada. 

     Buarque de Holanda intensifica a idéia de urbanização fazendo uma distinção entre o processo colonizador dos holandeses em Pernambuco e dos portugueses no resto do Brasil.
 “Ao passo que em todo o resto do Brasil as cidades continuavam simples e pobres dependências dos domínios rurais, a metrópole pernambucana vivia por si. (pág. 63)”

     Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Otto Alcides Ohlwiler, fazem um apurado do conjunto social nacional, desde seu nascimento entre a interação de raças, até a urbanização e a organização mais recente, ganhando força, sobretudo, fatores econômicos, montando e adicionando corpo à estrutura social, hoje amplamente reconhecida por seu fator determinante e mais relevante, a hibridização do componente social brasileiro.


domingo, 23 de outubro de 2011

Viver em Rede no Século 21

    Talvez os agentes promovedores dos avanços na esfera tecnológica, não soubessem claramente a ponta exata em que fosse findar seus projetos. Talvez nem mesmo fosse essa realidade o anseio idealizado. Ocorre que uma vasta parcela de todo avanço destina-se direta ou indiretamente para fins mercadológicos, e por isso, ao invés de se enquadrar em valas sociais, acaba por a própria sociedade alinhar-se às novidades.

    A internet por si só, surge como o elemento de maior força democrática até então. Rádio e TV, estes possuem um maior alcance, evidentemente – contudo, há de se conceber que a internet como única ferramenta, permite uma direta participação do usuário. Eis o segredo de tamanha popularidade, eis a razão por se dizer democrática. Estar conectado é consumir diretamente a globalização, é ser o indígena da aldeia global, é antes de tudo, mostrar para todo o mundo, o seu mundo.

    A democracia está no sentido de que todos em que nela estejam, dela possam participar – mas para além disso, influir na migração da democracia para o campo concreto. Talvez os pioneiros da internet não tivessem pensado, e provavelmente não pensaram que esta seria a ferramenta que ditasse o ritmo de setores fundamentais no mundo inteiro, talvez nem imaginassem que um avanço tecnológico derrubasse governos totalitaristas chumbados em suas convicções e poderio ditatorial.

    Viver online neste momento é viver a agenda pública e melhor do que isso é fazê-la. Provavelmente todo o fascínio que produz o despertar do interesse em estar conectado, seja a ideia de contribuir com os fatos, com a opinião, com a formação de uma gigantesca plataforma de informações. A internet, sobretudo nesta era, cumpre com o papel de ser o promovedor de alguns anseios explícitos na Declaração Universal dos Direitos Humanos do Homem.


Artigo 19°: Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.


    Viver em rede, neste momento é contribuir com mudanças em todos os aspectos, é direcionar toda a sociedade para o caminho intercultural, é apurar e difundir diversidade, é fazer da democratização da informação, o determinante de hábitos e comportamentos coletivos, é expandir ideias, é pensar o mundo, mas não só no mundo. É encurtar distâncias, é viver de fato e, não apenas existir.





quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Raiz da Violência que Migra

     O mapa psicológico e mesmo real da violência no país, comumente baseava-se no Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro, sobretudo. A urbanização desprovida de organização garante alguns dos aspectos contribuintes da violência urbana.  

     Dados mostram que em 1999, a taxa de homicídios em São Paulo era de 64 mortos para cada 100 mil paulistanos, contudo, registrou-se uma queda em mais de 85%, esses resultados deve-se obviamente a adoção de políticas públicas, tais como: Uma manutenção no aparelho policial, a proibição da venda de bebidas, seguida do fechamento de bares em determinados horários, assim como a alta geração de empregos que por sua vez, reduz a mão-de-obra para a criminalidade. Na última década, o Brasil gerou cerca de 11 milhões de empregos com carteira assinada, mais pessoas trabalhando, menos agentes do crime.

      O que parece ser recebido com certo espanto são os índices recentes que medem a violência especialmente no Norte e Nordeste do país, entende-se por vezes de forma equivocada essa migração regida de forma um tanto acelerada. E por falar em Nordeste, dois estados estão especialmente em destaque: Alagoas e Bahia, os campões no ranking da taxa de homicídios. De acordo com José Maria Nóbrega, professor da Universidade Federal da Paraíba, os índices de violência do Sudeste reduziram em média em 47%, enquanto que no Nordeste os índices dobraram.

     Diante das perspectivas negativas, surgem diversas reações apaixonadas sobre o ponto de vista político, que visam antes de qualquer indagação, justificar a problemática atribuindo a um ou outro governante, especialmente quando se trata de Alagoas, há obviamente uma carência no sentido de se adotar políticas públicas que de fato combatam os agentes da violência urbana, contudo, a raiz de maior predominância é outra.

     Durante o governo Lula, o Nordeste foi beneficiado com programas voltados para o assistencialismo. O “Bolsa Família”, age na transferência de renda para a população extremamente pobre da região. Portanto, cresce no Nordeste crimes relacionados às drogas, que envolve diretamente o chamado “mercado negro” e homicídios. O fato é que os traficantes buscam novos mercados, mais viáveis e, quanto a isso, o Brasil vive um boom econômico, onde segundo o Economista Ricardo Amorim, o Norte e o Nordeste são as regiões que mais crescem nesse momento, devido à política de assistencialismo e ao crescimento espantoso do agronegócio, atraindo migrações de toda espécie.

     Portanto, o levante econômico faz com que num certo momento, o tráfico de drogas seja atingido positivamente e junto com ele, as mortes fatais que estão diretamente relacionadas. Os traficantes que aqui se instalam praticam violentamente a concorrência contra outros traficantes, contribuindo a ação destes para as estatísticas. Não só a questão econômica, mas principalmente, agiu para que a violência no Nordeste brasileiro tomasse tais proporções, não há estrutura urbana e social para que receba tal crescimento de forma que a violência seja contida, será uma questão bastante problemática.  

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Resposta a tal de Heloísa Helena


As Frutas Representativas

                      "A demagogia é a capacidade de vestir
                      as idéias menores com as palavras maiores."
                                                                   Abraham Lincoln


Costumeiramente e, sobretudo na política, os espetáculos sempre são eventos garantidos. Que dirá Otávio Augusto, o então imperador de Roma, vendo a problemática social crescendo de forma assustadora, por conta da escravidão e desemprego no campo, resolve adotar medidas que como diria John Kenneth Galbraith em “Anatomia do Poder”, um dos poderes mais fácil de ser colocado chama-se poder compensatório, aquele em que em troca de alguma recompensa, você é determinado a fazer o que outro deseja para seu próprio proveito. Vendo a viabilidade dessa corrente, o hábil imperador, apoiado por autoridades do império romano, coloca a famosa política de pão e circo, que não se trata só de uma legítima forma de “compensar” o povo por suas insatisfações, mas para, além disso, causar certa amnésia, posto que o pãozinho gratuito combinado ao verdadeiro show de gladiadores fazia com que, sobretudo os pobres, deixassem os problemas de lado. No Brasil, ela atende pelo nome de Bolsa Família e, por falar em Brasil, se tem uma coisa que aqui produzimos no sistema fordista (produção em massa), essa se chama político, temos tantos, que se matarem todos os políticos na China, por conta da corrupção, podemos tranquilamente exportá-los no formato de commodities, assim como fazemos com a soja, é de causar inveja a qualquer país. Não que eles sejam de todo o mal, longe disso, muitos deles são importantíssimos e  fazem um ótimo trabalho, além do mais, que chorem os anarquistas, mas não há como se garantir Ordem e Progresso, sem a presença da categoria, mesmo porque, este último para ser concretizado, dependente necessariamente do primeiro, da Ordem. Porém, como as frutas, que por eventos geralmente externos, diferenciam-se de outras, exatamente no quesito qualidade, nas assembléias pelo mundo, não se espante se encontrar frutas boas e frutas podres, que imediatamente são repudiadas por nossos olhos. Mas é preciso ter cuidado com as goiabas, por exemplo, algumas só se conhecem o “monstrinho” que elas guardam, depois da primeira mordida, a mordida do conhecimento, talvez da prudência. Todavia, muitos, encantados pela aparência e cheiro acabam engolindo o monstrinho, por incontáveis vezes. As goiabas, assim como alguns políticos, utilizam algum artifício para lançar seu encanto, nem que seja por alguns instantes, já é de extrema valia encantar, mesmo que seja breve. Eles, que assim como as goiabas sem serventia, tentam, e muitos conseguem, iludir com acessórios de sua natureza, aos que são providos de uma determinada inocência, cuja causa costumeiramente é decorrente da instrução adormecida. Porém, não julguemos as goiabas, elas não falam, os políticos falam, falam tanto, que alguns transformam seus discursos numa única categoria, a famosa demagogia, que na verdade não passa de um conjunto de falácias, idéias compradas na loja “Fantasia”. Tudo isso faz parte do espetáculo, descrito pelo francês Guy Debord em “A sociedade do espetáculo” onde ele diz que a alienação é mais do que um aspecto psicológico ou descrição emocional, está imposto aí a condição social, sobretudo. Portanto, alguns que se dizem discípulos da justiça social, através da política, praticam diariamente a demagogia, utilizam-se de discursos pré-históricos, de cunho pseudo-comunista, cheios de loucuras e divergências a tudo e a todos, para encantar os que não deram a mordida da prudência/conhecimento, isto é, os fanáticos, que por vezes não são convictos de suas idéias. Determinadas figuras, desprovidas de oferecer algum benefício, contrariando a essência de sua função, utilizam-se da retórica para fazer apelações emocionais para ganhar o apoio popular, e dessa forma se manter entre as frutas boas. Mas é bem verdade, que o uso da demagogia, idéia política baseada em argumentos de vidro, não permanece por muito tempo. No século XIX Abraham Lincoln já dizia: "Pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; Pode-se enganar todas as pessoas algum tempo; Mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo. Em outras palavras, deve chegar um momento em que as cortinas caem, o espetáculo é desmontado, o ator volta à sua face real e a fruta, essa entra em rápida decomposição. Tudo resultado de uma política fraca, sem argumentos, sem verdades, sem ações concretas que visem de fato o bem coletivo.  Esse tipo de político, quando é questionado simplesmente responde com adjetivos/classificações que mais parecem nascer de mente pequena e, sobretudo, tola.
Que ninguém se engane, as frutas podres têm um destino certo: A rápida decomposição no lixo, na presença de ratos e baratas, enquanto que as boas alimentam quem tem fome. Portanto, se tens posições, coloque-as verdadeiramente, pois assim, mesmo que seja contrário aos outros, será digno de defender o que convêm seu entendimento, mas não faça como alguns que escondem as garras por trás da tribuna, esses que chorem pela vergonha de serem podres e, por esse motivo, desprezíveis.


Breve Observação

Na condição de cidadã, eleitora ou qualquer outra categoria que caiba colocar: Estou atenta a tudo e a todos. Acompanhando especialmente atividades realizadas por políticos do Estado. Portanto, que fique claro minha função, fiscalizar. Acrescento que numa sessão na Câmara Municipal de Maceió, a então vereadora por nossa capital, Heloísa Helena (PSOL) confirmou que votou a favor do aumento de salário dos vereadores , contrariando assim a resposta que recebi via Twitter, diga-se de passagem. Porém, a vereadora disse que votou sem ter prestado a devida atenção. Ora, nobre vereadora, você é paga para no mínimo cumprir sua função, se você que é vereadora não tem compromisso para com uma decisão que implicará exatamente em mais gastos para os cofres públicos, incluindo evidentemente, aqueles que votaram em você, por que então a senhora ocupa a cadeira? Por que esbraveja tanto quando o assunto é gasto, se na prática não dá a mínima importância para algo de tanta relevância? Francamente, fico descrente com tanta falta de compromisso por parte de alguns políticos, mas para, além disso. Justificativas de gelo, quando expostas, se desmancham com uma facilidade impressionante e, antes de atestar qualquer falta de compromisso, lembre-se: O local chama-se Casa de Mário Guimarães, mas não, Cirque Du Soleil.  E a propósito, ainda farei muitos questionamentos, esse é só o primeiro.




OBS: Portanto, em unanimidade, NENHUM VEREADOR FOI CONTRA AO AUMENTO DE SALÁRIO.


Do mesmo modo que Jornalismo bom é o que fala a verdade, político bom é o que no mínimo coloca suas verdadeiras posições, porque esbravejar loucuras, qualquer  idiota sabe.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Era Lula: Incra planta a contrarreforma agrária


Desde o berço, no Brasil alguma historinha infantil é inventada quando o assunto é Amazônia. Comumente falando, os governos fazem algum malabarismo para que sua classe aliada fique encantada e não incomode com cobranças.
Em 2008, tínhamos o governo Lula (PT), um governo teoricamente de esquerda, sindicalista, que levantava a todo custo a bandeira da reforma agrária, seus aliados pediam publicamente pela reforma no campo. Então o jeito era fabricar uma novelinha para divertir essa classe, mas como fazer isso? Simples, dizer que estrangeiros estão adquirindo muitas terras públicas no Brasil, além do que, quem produzirá a novela rural chama-se Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com o eficiente Incra. Então veja que entre os anos de 1964 e 1968, torna-se público um belo exemplo de corrupção através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra), o escândalo produziu a Lei n° 5.709/71, propósito: Regular a compra de terras públicas por estrangeiros que residam no país ou pessoa jurídica estrangeira que tenha autorização para funcionar no Brasil. Após 1995, o Incra deixou de ser o órgão responsável pelo controle por esse tipo de aquisição. Entretanto, uma Emenda Constitucional de n°6 revogou o 1° parágrafo do 1° artigo da Lei citada acima (n. 5.709/71), onde tirou-se esse controle do Incra. Logo, por um certo período, estrangeiros não precisariam mais de requerimento para a aquisição de imóveis rurais brasileiros. Porém, o parecer CGU/AGU n. 01/2008- RVJ/2010 colocou o Incra novamente na figura de controlador, então o órgão pode revelar o “tal escândalo” onde de acordo com os dados deste: Em 2009 34,371 imóveis rurais eram de estrangeiros  equivalendo 4,348 milhões de hectares, em outros termos, mostrava-se 34,6% da área da Amazônia legal ocupada por esses imóveis. Daí, você pode pensar: Mas o Incra está buscando a reforma agrária, carro chefe do MST, então está correto. Então fique sabendo que o II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) chega ao fim do primeiro ano do segundo mandato do governo Lula sem que nem a metade do projeto fosse concretizado, parando por aí  qualquer possibilidade de continuidade. Além do mais, os dados mostrados pelo Incra, na verdade representam as terras vendidas por funcionários do próprio órgão para grileiros, essas, terras que seriam teoricamente destinadas à reforma agrária. Todavia, é certo que a grilagem esteve presente em diversos governos, portanto não é prerrogativa do governo Lula. A diferença reside no fato de que, adotando uma política abertamente pró- reforma agrária, o governo fez exatamente o inverso, onde o que se viu foram inúmeras alterações em leis que tratavam do assunto, afim de que se favorecesse atividades no setor fundiário para a aquisição dessas terras com uma fiscalização mais branda, de certo modo. Mas para cair por terra, todo o carnaval protagonizado pelo Incra no escândalo em 2008. Em 2010, o próprio órgão publicou dados que iam de encontro com o que foi apresentado antes. Segundo este, entre 1972 e 2009, o número de imóveis rurais de estrangeiros havia caído, em outros termos, ficando em 0,5% do território nacional, portanto nada tão significativo. A questão de ordem está na idéia de que continuamos no governo do PT e parece que a idéia é fortalecer a prática.  Algumas empresas do agronegócio e setores semelhantes andam fazendo suas exigências no sentido de que o governo Dilma reveja os limites de aquisição de terras por estrangeiros. Com isso, o atual governo, através da Secretaria de Assuntos Estratégicos, produziu um projeto de lei para que a compra de área de 5 mil a 500 mil hectares por estrangeiros, precisa de autorização do Conselho Nacional de Terras. Áreas acima disso, deverão ser aprovadas no Congresso Nacional, apenas como efeito teoricamente burocrático, mas que mostra-se aí, uma forma organizada de vender  nossos imóveis rurais para empresas vindas do exterior, mesmo porque, segundo a Lei n. 5.709/71, estrangeiros podem comprar até 212,869 milhões de hectares do território nacional.  Portanto, se você ainda acredita no lema, teoricamente defendido pelo MST, que por sua vez está bastante enfraquecido, ou na tão discutida Reforma Agrária, que foi um ponto forte no governo Lula, acho bom você repensar sobre o assunto.

 OBS: Todos os dados foram retirados do Jornal Le Monde Diplomatique Brasil.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Democracia e Representatividade, Irmãs Siamesas

Se toda a humanidade menos um fosse da mesma opinião, e apenas um indivíduo fosse de opinião contrária, a humanidade não teria maior direito de silenciar essa pessoa do que esta o teria, se pudesse, de silenciar a humanidade. (Stuart Mill)



Certamente não há como se pensar de outra maneira o idealismo proposto para um governo verdadeiramente representativo, definido por John Stuart Mill, em que defende a premissa de que o ponto de maior excelência de todo governo deve basear-se, sobretudo, na promoção da virtude e inteligência de seu próprio povo e, por conseqüência de boas escolhas, ter-se-á um governo cujo progresso é ponto fundamental, assim como em todas as suas implicações.
O útero grego que gerou a comumente forma de governo onde o povo decide medidas importantes para a nação, direta e indiretamente, através de seus representantes, também foi lugar de divergências quanto ao regime. Diversos intelectuais da época eram contrários a um governo teoricamente popular, Platão e Aristóteles, por exemplo, incluem-se nesse grupo. A partir do momento em que se colocou democracia e igualdade na mesma categoria, a idéia não parou de ganhar força, hoje, por todo o mundo, calcula-se que deva haver em torno de 120 nações sob o regime democrático, porém há algumas ressalvas. Sabe-se que, verdadeiras ditaduras de cunho comunista, que se definem como “democracia popular”, permanecem fora dos padrões democráticos de fato, a exemplo, citam-se a República Democrática do Vietnam e República Democrática Popular da Coréia.
Notadamente na contemporaneidade, movimentos democráticos firmam-se como verdadeiros divisores de águas da história mundial. A primavera árabe é assim chamada, porque o que vem acontecendo constantemente em regiões do Oriente Médio, África, além de outros lugares, é comparado ao nascimento de uma flor no deserto, algo tão difícil de acontecer, que quando é de fato vivenciado, configura-se de forma justa, como algo grandioso, inédito.
Por se tratar de um regime governamental, e assim assumir características de interesse geral, é pratico perceber que democracia e representatividade andam juntas e no mesmo sentido. Em “O Governo Representativo”, John Stuart Mill coloca: “A idéia pura de democracia, conforme a sua definição, é o governo de todo o povo, pelo povo todo, igualmente representado. A democracia, conforme comumente concebida e até aqui praticada, é o governo de todo o povo por simples maioria do povo, exclusivamente representada.”
Neste sentido, há de se considerar, que a verdadeira democracia, preza fundamentalmente pela representatividade, cujo alcance seja o máximo possível, em outras palavras, na vontade original, quer a democracia antes de tudo, garantir que todos sejam representados, por isso não só a maioria. Pois em se tratando de um governo baseado no ideal de representatividade, deve-se questionar quanto ao seu real funcionamento e, como os governos são baseados na política de maioria simples, o ideal de democracia/representatividade fica necessariamente distante de sua verdadeira função. Consideremos um governo onde este é baseado em voto igual e universal, cada base elege os seus por maioria simples e, por assim o parlamento representa uma pequena maioria, as medidas propostas no mesmo parlamento são aprovadas por uma maioria dentro do mesmo e, certamente nem a maioria que elegeu esses que aprovam tal medida, estão de acordo com o resultado e, mesmo que estejam, e a outra parte do povo que nem representação tem? Não poderá ter voz alguma nas decisões que teoricamente deveriam emergir de todo o povo para o povo todo?
É lícito que nem mesmo a pseudodemocracia baseada em maioria simples consegue ser assim concretizada e, que, portanto, o regime democrático amplamente utilizado, vive dentro de uma imensa onda utópica, confirmando a real figura do governo, onde baseia-se em prerrogativas para uma verdadeira minoria, afastando qualquer imposição democrática. Para essa problemática, o autor defende o voto distrital, onde metade das vagas é colocada pelo sistema de proporcionalidade e a outra metade pelo sistema distrital. Em vista, há também um requisito um tanto mais óbvio. Mill, diz que a representatividade deva ser estabelecida proporcionalmente à população para que teoricamente, tenha-se a maior diversidade possível de classes inserida no governo e que, portanto diferentes camadas sociais tenham sua vontade ao menos em pauta. Utopia ou não, onde há uma maior representatividade, e neste sentido, em seu ideal deva ser composta de forma mais diversificada possível, chegar-se-á um pouco mais próximo do ideal de democracia baseado na igualdade de todos. Em certo sentido, praticamente sinônimo, democracia e representatividade devem, sobretudo, caminhar para a inclusão total dos cidadãos, não que na prática isso vá acontecer, mas que para começar haver coerência, é preciso que pelo menos se busque pelo ideal proposto originalmente e, que, portanto, o regime democrático faça jus pelo menos a sua definição, a começar pelo sistema de representação e voto distrital.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Maceió: Paradoxalmente definida


♪... Ai que saudade do céu, do sal, do sol de Maceió... ♫

Seria extremamente errôneo assegurar só à capital, a crônica problemática em que vive o estado em seu todo. Porém, nos atentemos à Maceió, mesmo porque, está se falando do motor que faz, ou tenta fazer o estado andar, ou nem isso.

O fato maior é que a incompatibilidade entre Maceió e outras capitais, parece ser algo despercebido, invisível, isso é o que mais intriga. Parece que será preciso poderosos microscópios para que esta, que se diz “a sociedade alagoana” veja o desastre tão evidente, mas é certo que microscópios são utilizados comumente para que se vejam planetas, estrelas distantes.

 Mas então, por que se valer de ferramentas para ver coisas que estão longe, se a pobreza está tão perto? Para isso mesmo, por este ângulo é mais fácil se valer de microscópios e ver estrelas, assim deixam de enxergar a miséria que os rodeiam, por toda parte.

O momento pede marchas, protestos, enfretamentos, conflitos em geral, este é o mundo agora. A chamada Primavera Árabe poderia espalhar o seu pólen por Maceió, quem sabe lindos jardins poderiam surgir. Mas alguém poderia dizer: “Mas a primavera árabe é um movimento que clama por democracia e, aqui ela já existe.” Existe?  Existe mesmo essa participação do povo onde não se tem segurança? Onde a educação não chega nem a se alfabetizar? Onde a miséria se espalha feito o vento?  Onde não se fala mais em saúde, mesmo porque ela já caiu no esquecimento desde a sua morte, por falta de atendimento nos hospitais?

Como dizem âncoras de telejornais: Maceió está chamando a atenção do país inteiro (ver vídeo de Bom Dia Brasil). A começar pelos índices que deixam a cidade nas alturas, lá no início de todo e qualquer ranking negativo, prova disso é o número de homicídios em Maceió, que nos últimos 10 anos, subiu 219,5 %, desconsiderando o ano de 2011. No quesito miséria, Maceió está em terceiro lugar e mais, falando-se em desigualdade subimos mais um pouco, estamos em segundo lugar no pódio, considerando uma piora nos últimos anos.

 Não podemos nos esquecer da desigualdade educacional, como é de costume, Maceió se mostra sempre campeã quando esse é o gênero analisado. Porém, há índices em que a capital é colocada em último lugar dentre todas as capitais, ao exemplo, segue-se a freqüência escolar de crianças entre 7 e 14 anos, aqui, tem-se a maior evasão dessa faixa etária nas escolas, todas as outras capitais ficaram à frente de Maceió.

Esses são dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, portanto, incontestáveis. Neste caso, os números são extremamente redundantes e servem somente para efeito de confiabilidade. Outrossim, com a redundância com que se utiliza a imprensa de um modo geral, para citar Maceió em pesquisas que envolvem fundamentalmente índices sociais. É grande também o número de pessoas que por lapso de memória ou qualquer outra coisa, esquecem que fazem parte daquela “sociedade alagoana” e com todo fervor criticam os políticos e, colocam todos eles na mesma categoria.

 Muitos dessa mesma sociedade, que critica a ela mesma e esquece de que também está falando de si, fala com autoridade de todos os países do Oriente Médio juntos, esquece toda e qualquer educação e respeito, mas sabem sim, criticar com argumentos comprados no Paraguai, que apenas repetem outros “indignados” e desinformados. Os governos são reflexos de sua sociedade e, isto é inquestionável, não que eles sejam de todo o mal, não estou cá defendendo a categoria, mas generalizar é apenas resultado da falta de conhecimento.

 Basta que essa sociedade olhe para si, basta que a sociedade residente em Maceió, sobretudo, guarde o microscópio e volte seus olhos para a infância miserável presente a qualquer esquina, a qualquer semáforo, basta que ao invés de microscópio essa sociedade use óculos, óculos da sensibilidade, talvez seja exatamente esse o problema, talvez seja a ausência total de sensibilidade de muitos, que não deixam que estes mesmos enxerguem o lixo nas ruas, as pessoas nas ruas, a poluição, a violência, a corrupção, a prostituição, a miséria incontável.

Talvez, quando esta sociedade encontrar a tal sensibilidade, irá perceber que Maceió passou de “Paraíso das Águas” para “Paraíso das Armas”, porém cabem aí as duas definições, por isso, a sensibilidade mostrada pela natureza, pede socorro, pede pelo paraíso agora distante. Talvez nós enxerguemos, talvez.














terça-feira, 16 de agosto de 2011

Manhattan Connection: A conexão inteligente.

                   Sabedoria compartilhada, política do futuro que aspiramos


A TV brasileira, deste período, e, sobretudo a chamada TV aberta, em sua composição maior, parece desprovida de componentes com um verdadeiro nível crítico sério e que ao mesmo tempo seja reconhecido pelo menos nacionalmente, no entanto, essa característica é constantemente encontrada nos canais por assinatura, talvez pelo seu público alvo, talvez por sua especificidade. Ganham destaque canais fundamentalmente informativos, bem como canais propriamente jornalísticos. Que se trata de uma prerrogativa, não se pode negar, portanto, o Manhattan Connection é um típico programa que atende a um público específico. Exatamente pela qualidade com que escolhe e coloca assuntos nele contigo semanalmente. Não que o público em geral não possa consumir os ditos “assuntos de qualidade”, mas que principalmente a forma como eles são explorados, exige-se que se conheça a contemporaneidade de forma amplamente crítica, sob uma visão um tanto expansionista, característica essa, atribuída comumente a uma pequena parte da população que consome produtos televisivos.
A especificidade já começa a se concretizar pelo fato do programa ser transmitido por um canal fechado, e que, portanto só quem paga por uma TV a cabo, terá a possibilidade de assisti-lo exatamente no formato em que é apresentado. Desde 1993 no ar, o Manhattan Connection já mudou até mesmo de canal, migrando do GNT para atualmente se apresentar na Globo News, mudando até mesmo muitos de seus componentes.
Hoje, o time que nunca perde, é formado por Lucas Mendes (apresentador), Caio Blinder, Diogo Mainardi, Ricardo Amorim e Pedro Andrade. A excelência com que é conhecido o Manhattan Connection é talvez atribuída fundamentalmente a qualificação de seus apresentadores e ao formato físico do programa, haja vista que seu estúdio está localizado em Manhattan, New York, onde ficam Lucas Mendes, Pedro Andrade e Caio Blinder, além de conter dois componentes em vídeo conferência, Diogo Mainardi em Veneza e Ricardo Amorim em São Paulo, isto é, trata-se de uma verdadeira conexão com sede em Manhattan.
Marcado pela descontração com que são tratados assuntos sempre em pauta, como Economia, Política, Cultura/Entretenimento e qualquer questão em evidência pelo mundo, de caráter propriamente opinativo, o bate-papo rola recheado de sabedoria e bom humor, fazendo um apanhado dos principais assuntos comentados durante a semana pelo mundo, mesmo porque, o Manhattan Connection é transmitido aos domingos, às 23hr00.  Considerando-se programas de TV de caráter semelhante, há sem dúvida como produto dessa análise a explicação para o sucesso com o qual é anexado ao programa. Há uma verdadeira salada categoricamente jornalística que fundamenta o programa, a começar pelos apresentadores, passando do ex-modelo (Pedro Andrade) ao economista (Ricardo Amorim) e no meio disso, evidentemente, encontram-se jornalistas respeitadíssimos que formam o elo de interação extremamente harmonioso. O sucesso amplamente reconhecido pode ser explicado também pelo caráter amistoso, a conexão mais parece uma conversa calorosa entre amigos inteligentes, gerando propriamente educação, movendo mentes comprometidas com o futuro.




quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A Contemporânea Construção Civil

                            "Desorganização demais, despreparo demais."


Evidentes alterações em todo o corpo social são claramente sentidas, quando se considera,sobretudo, aspectos físicos. Na China, por exemplo, hoje e para muitos anos, toda a construção civil de lá é movida pelo minério brasileiro em forma de commodities, considerando que a população chinesa em sua maioria ainda vive na zona rural, entende-se aí que ainda há muito que se fazer por lá. Por aqui, a construção civil é de fato, autossuficiente, isso é dito, porque apenas 2% dos insumos utilizados em construções, são importados. De acordo com o IBGE em parceria com a CAIXA, o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) registrou uma variação de 0,55% no mês de Julho, nos últimos 12 meses, essa variação ficou em 6,61%, registrando uma queda de 0,21%, já que nós outros 12 meses, calculou-se em 6,82%. E não é só isso, falando-se ainda no mês de Julho, o custo nacional da construção por metro quadrado ficou em R$ 800,02, em que R$ 441,82 são destinados a materiais e R$ 358,20 à mão-de-obra.
 A representatividade da construção civil, no Brasil é imensa, ela é o setor que mais cresce, que mais gera emprego (6% do total de empregos no país) e renda, além de contribuir com 16% do PIB brasileiro, está em segundo lugar, no ranking dos setores econômicos, só perde para a agroindústria. Parece que a construção civil está com tudo não é? Mas está mesmo, porém, os empecilhos se fazem presente e, são problemas crônicos, muitos deles. Não se pode esquecer-se de colocar que o programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” do governo federal, agiu de forma ímpar no crescimento deste ramo e, que, portanto, a continuidade de programas de caráter semelhante, deve ser mantida. Novas formas de financiamento são importantíssimas, deve-se considerar também o custo dos terrenos e os problemas mestres: a mão-de-obra escassa e desqualificada e a baixa tecnologia. No entanto, segundo o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil), deve haver um crescimento de 6,1% no setor, este ano. Portanto, junto com todo esse grandioso sistema de produção, há também os problemas, eles são muitos, a começar pela falta de fiscalização, e por falar em fiscais. Segundo o Ministério do Trabalho, há neste momento 3 mil fiscais para todo o Brasil. A bagunça é grande: obras irregulares, desperdício de material, péssimas condições de trabalho, obras em locais impróprios, falta de segurança e, por falar nela, só ano passado, morreram 376 pessoas na construção civil, segundo o Ministério do Trabalho e, continuam morrendo, porque as obras não param e o descaso também não. Há uma estimativa de que 67% dos brasileiros têm renda para comprar um imóvel e, este percentual deve aumentar, porque até 2014, há mais 2 milhões de moradias previstas para o programa “Minha Casa, Minha Vida”. O crescimento acelerado aliado à falta de acompanhamento do Ministério do Trabalho e órgãos competentes, geram desorganização, geram problemas futuros.








segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Maceió Fest: É preciso

 "Argumentos precisam ser baseados em fatos, fatos elegem a realidade."

Todo e qualquer problema transforma-se em elemento motor quando a ele é unido sua respectiva resposta/solução. Que eles surjam é inevitável e, que, portanto, mais louvável que suas supostas soluções são as idéias, berços que protegem a garantia da complementação do que parecia um entrave, mas que agora se mostra uma realidade positiva.
     Apresentar idéias e soluções não é mais necessário, é vital, sobretudo na era do capitalismo em crise, e que, portanto atinge os mais íntimos anseios sociais. Segundo o então economista Ricardo Amorim, o Norte e o Nordeste são as regiões que mais crescem hoje no Brasil. Apesar disso, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os empregos formais no estado de Alagoas, estão diminuindo constantemente (dados de 2007-2010), enquanto que em outros estados do Nordeste acontece o inverso, bem como no Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba e no Brasil de um modo geral, os empregos com carteira assinada, crescem. Esse é um reflexo da concentração do PIB que em Maceió só perde para Fortaleza no ranking das capitais nordestinas que indicam a concentração de riquezas, deixando bem atrás o PIB acumulado em suas cidades do interior.
     Não há argumentos contra indicativos econômicos, tem-se aí o demonstrativo simples do que é, e de como está a economia do estado e de Maceió. Portanto, propor alternativas para que se altere o cenário negativo, está  dentre as melhores opções. Maceió, não tem neste momento nenhum evento capaz, por exemplo, de atrair turistas de forma expressiva e singular. Coisa muito comum dentro do maior evento já produzido no estado e evidentemente na capital, o Maceió Fest, em três edições consecutivas, foi eleito um dos melhores carnavais fora de época do Brasil, para que não se atente exclusivamente à aprovação popular do evento, que na época girava em torno de 75% e hoje para que se comprove uma aprovação no mesmo patamar, o uso de uma consulta popular traria concretude à essa perspectiva.
     O fator de maior relevância, o aspecto econômico, seria o maior beneficiado, e da melhor forma possível, haja vista que esse tipo de evento gera circulação de dinheiro, do camelô aos organizadores, passando por restaurantes, hotéis, shoppings e qualquer categoria comercial semelhante, gerando os elementos fundamentais para o crescimento, emprego e renda.  Contudo, a atual pauta da problemática em Maceió atende pelo nome de violência. Segundo o Unicef e o Laboratório  de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Maceió é a capital onde mais se contabiliza homicídios de jovens, com idades entre 12 e 18 anos (dados de 2009), essa estimativa representa um dos fatores fundamentais para a já comprovada  queda no número de turistas e investimentos.
     Evidentemente, como qualquer evento dessa espécie, o Maceió Fest, que desde sua primeira edição em 1994, já registrava índices de violência durante sua realização, e numa possível volta do evento, irá se registrar os mesmos índices de assalto, roubo de automóveis, brigas, depredação do patrimônio público, poluição sonora, poluição ambiental, prostituição, além de possíveis homicídios. Tudo que já acontece diariamente na capital e de forma tão evidente que vire e mexe Maceió é pauta garantida no quesito violência. Portanto, nada que do que poderá ser evidenciado no evento, será acima do que já é conhecido especialmente na capital. É crucial discutir, que a promoção do evento requer incentivos públicos, e isso significa gasto para os cofres públicos, como acontece em qualquer evento apoiado pelo executivo, e ou demais organizações governamentais comumente falando. Incluindo no leque de problemas, e talvez um dos mais importantes, haja vista que este foi o problema que tornou o Maceió Fest extinto, portanto, não há como evitar, os transtornos sentidos principalmente por quem habita no decorrer da orla marítima e em regiões próximas, serão inevitáveis, mesmo porque, não há como conter a poluição sonora e ambiental, já que o Maceió Fest é um evento essencialmente musical e, além obviamente de haver consumo de bebida e derivados, principalmente.
     De fato, esses problemas sempre irão existir, porém, pode-se determinar regras para que este seja mais um item muito bem trabalhado, para que cause o menor impacto possível, mesmo porque, eventos com caráter semelhante ao Maceió Fest, são realizados todo os anos  sem que se tome alguma medida para excluí-los do calendário de festas, e que por sinal, formam a plataforma de festividades que antecedem o carnaval, e que portanto, acontecem exatamente no mesmo período em que acontecem eventos da mesma categoria em várias partes do país, isto é, o poderio desses eventos não seria compatível com o Maceió Fest, que acontecia em datas que pudesse ser um evento único em seu período de realização e formato de entretenimento.
     Evidentemente, não há segredo para que se promova um Maceió Fest de sucesso, assim como em qualquer outra festa de caráter popular, um planejamento extremamente cuidadoso no sentido de conter todo e qualquer problema, todo e qualquer ganho econômico e não deixar de estabelecer o motivo maior que justifique a volta do evento. O que se pretende é da forma mais viável possível, e assim considerando as características socioculturais e ambientais de Maceió, garantir o ganho sob os aspectos do entretenimento e cultura e, sobretudo econômico, de uma maioria imensamente desejosa para a volta do Maceió Fest. Para que não se esqueça, a rede hoteleira contabilizava um aumento expressivo em sua ocupação nos dias em torno do evento, a movimentação de dinheiro e, turistas brasileiros e estrangeiros conferia o sucesso do evento, até mesmo as agências de viagem aumentavam seus lucros, já que estas vendiam pacotes específicos para o Maceió Fest.
     Se este fosse um evento de caráter danoso em sua maior parte, não seriam realizadas festas semelhantes em diversas partes do país. Hoje, as chamadas micaretas acontecem todos os anos desde Belo Horizonte (MG) até Belém do Pará (PA) passando pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, incluindo diversas capitais do Nordeste, exceto, neste momento, Maceió. Vez por outra, surgem especialmente na internet, manifestações populares a favor de que o Maceió Fest faça parte novamente do calendário de festas da capital, neste caso, é preciso, sobretudo, um interesse da prefeitura de Maceió, para que se garanta a festividade, bem como acontece com a prefeitura de Recife, de Feira de Santana e de tantas outras cidades que promovem o desenvolvimento direto e indiretamente de toda a população, de forma claramente viável considerando todo o conjunto. Trabalhar de alguma forma para o desenvolvimento de Maceió é o dever de todos, resta saber fazer isso da forma mais inteligente e verdadeiramente eficiente.

sábado, 6 de agosto de 2011

A primavera árabe: A glória da internet democrática

Chegou o momento de exigir, exigir o mais belo jardim e, sentir o cheiro das flores, das flores da liberdade(Jéssica Diniz)

Foi a partir de um satélite, onde tudo começou. O chamado Sputnik, foi na verdade uma série de satélites soviéticos artificiais que após seu lançamento, obrigou os Estados Unidos a lançarem a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada. Pronto, estava plantada a semente da internet, em 1955, mas só na Guerra do Golfo, teve-se de fato a presença desse, que seria mais tarde, para muitos, o elemento mais revolucionário de nosso tempo. Contudo, a revolução não parou por aí, considerando décadas mais recentes, e, sobretudo a partir dos anos 80, o mundo passa por mudanças necessariamente globais, guerras, crises econômicas, quebra de tabus, profundas mudanças políticas, transformações culturais, nascimentos de movimentos sociais, a problemática ambiental e, sobretudo, a todo-poderosa internet. Ela talvez fosse pop demais para os moldes culturais do Oriente Médio, mas era só uma questão de tempo. No ano de 2001, e o então ataque terrorista ao World Trade Center (E.U.A), fez para sempre, que se voltassem as atenções de todo o mundo, para uma parte dele um tanto nebulosa, reservada.  A partir daí, o mundo começou a questionar elementos culturais do Oriente Médio, e, sobretudo, conhecer o pensamento daquela região do planeta, a fim de entender de imediato, conflitos um tanto surpreendentes naquele momento, aliado a essa curiosidade, a mesma região começou a entrar no processo informacional, começaram a perceber que a vida de miséria e repressão em que viviam, em decorrente do regime ditatorial, não fazia mais sentido, o mundo era outro, perceberam que a liberdade desfrutada em outros lugares, parecia saborosa, então nasce a primeira flor da chamada Primavera Árabe. Talvez a primeira flor mais importante tenha sido a então já comentada neste blog, a TV Al Jazeera, símbolo de independência e persistência, esta é a TV que mostra ao mundo, o Oriente Médio de forma mais justa, de forma real.  E como se não bastassem as toneladas de revoluções, surge a mais intrigante de todas, as redes sociais entram em cena para globalizar o mundo como nunca se viu. Essas ferramentas parecem ser exatamente do tamanho do parafuso responsável pela engrenagem do sistema do regime ditatorial ali vigente. Com uma pitada de Facebook, duas colheres de Youtube e duas xícaras de Twitter, estava lançado o segredo da receita do regime democrático de direito. Então quase que de surpresa começaram os protestos coletivos. A Líbia de Muammar al-khaddafi, o Egito de Mohamed Hosni Mubarak, e tantos outros mostraram ao mundo seus desejos irreversíveis, e não mais satisfeitos com a vida à base da mordaça, mostraram na prática, o poder das redes sociais, concretizado, estabelecendo uma nova era, para de alguma forma, toda aquela região. As contemporâneas manifestações no Oriente Médio simbolizam mais que um pedido, uma exigência de um regime justo, igualitário, humano, exige-se liberdade, e, sobretudo, dignidade. Todas as revoluções ali postas podem fracassar, mas é só o começo de todo o conjunto de alterações. Vivemos na era da exigência pela justiça social, de manifestações em suas mais diversas reivindicações, isso é resultado sem sombra de dúvidas, do direito fundamental, a liberdade de expressão, o direito à informação, que certamente se faz a porta de entrada para se requerer todos os outros de forma consciente, de forma que se promova justiça. Imagine um jardim magnífico surgindo no meio de um deserto desprovido de qualquer esperança, então imagine o que esse jardim significa para a formação do buquê democrático, no chamado mundo árabe.

domingo, 31 de julho de 2011

Porque os pernambucanos exaltam tanto sua cultura, diferente dos alagoanos.

Em entrevista cedida pelo professor Bruno César Cavalcanti, a partir de um ângulo cultural, é possível entender em parte, essa distinção identitária.


1.      Professor Bruno, segundo alguns estudiosos, o folclore alagoano está entre os mais diversificados do Brasil, se não o mais, diante disso de que forma pode-se dizer que o folclore de Alagoas influi sobre outros segmentos culturais?
Há uma pretensão entre nós de falarmos com um certo orgulho dessa diversidade de expressões folclóricas em Alagoas, é um bom marketing que costumamos fazer de nossos territórios. Mas ele é grandemente mistificador porque isso foi de fato afirmado durante um congresso folclórico brasileiro que ocorreu aqui, salvo em engano em 1951 ou 1952. isso foi afirmado por folcloristas nacionais, particularmente por Renato Almeida e Tomas Cascudo, eles fizeram referências positivas à variedade do folclore alagoano, é um fato que existe essa diversidade bastante acentuada, em primeiro lugar isso decorre da nossa ruralidade, alagoas permaneceu sendo um Estado organizado em torno de um modelo de produção econômica de base rural, como é o caso da cana e açúcar. Essa presença rural deu uma parcela de importância grande nessa diversidade, as populações viviam em fazendas, viviam isoladas, eram levadas elas próprias a buscar suas formas próprias de entretenimento, é possível que isto esteja na base dessa diversidade, mais do que uma característica intrínseca. Deveríamos pensar também, qual é de fato a interferência que possa existir dentro de segmentos culturais locais, eu diria que essa influência poderia ser maior, mas ela não é por conta da nossa fragilidade em termos de identidade cultural, por exemplo, a cultura popular joga um papel muito grande na definição da cultura pernambucana, não é sem razão que a gente teve um movimento como o Manguebeat em Recife, que gerou uma tremenda influência da cultura pop internacional sobre as gerações da era do computador, uma geração marcada por uma cultura pop, mas que foi criada foi sociabilizada dentro de um quadro de pressão identitária muito grande, ou seja, o Manguebeat deu vazão por um certo sentido a uma demanda reprimida por uma cultura internacional eletrônica assentada no rock e por outro lado ela prestar contas com as tradições  locais, aos ritos populares como apoxé, maracatu, a música popular pernambucana,então o mangue é uma hibridização possível dentro dessa pressão em manter-se fiel à uma linha de continuidade popular, aqui essa linha de continuidade não é exigida, não há essa pressão, os grupos populares  não tem essa capacidade porque eles não foram abraçados pela nossa elite econômica e política, as pessoas não gostam das coisas populares daqui. Os folcloristas decantam muito a cultura popular tradicional de Alagoas, mas isso não se traduz na realidade, um jovem recifense está muito mais linkado com um mestre de cultura populares, enquanto que em Alagoas há um esforço divisor entre essas gerações de jovens que se expressam, e a base popular, artística, porque são segmentos que não se tocam.

OBS: Primeira parte.