sexta-feira, 23 de março de 2012

Um passeio entre ex-presidentes

A particularidade do Brasil compõe-se de tantas outras, advindas exatamente da diversidade de situações incrivelmente modeladoras da memória nacional. A política em especial quase nunca se repete, talvez por isso sempre houvesse incertezas quanto ao futuro. Toda a história da política nacional é passível de entendimento simples, talvez exatamente pela aura conferida a cada governo.

Após o regime, muito de novo surgiu, e os governos muito têm a contar. Em Janeiro de 1985, José Sarney (na época senador do Maranhão pelo PDS) é eleito vice de Tancredo Neves, através ainda de Colegiado. Antes mesmo da posse, Tancredo perde o posto de presidente por ação de um tumor, e Sarney torna-se presidente da república sendo surpreendido com uma bomba. O presidente é informado através do Conselho de Segurança Nacional, de que há um buraco na Serra do Cachimbo (PA) que seria utilizado para experiências com bomba nuclear.

Sarney conta ainda, que havia um projeto para que João Batista Figueiredo fizesse um anúncio com a intenção de que o Brasil entrasse para o clube nuclear. Nada foi divulgado, pois a relação entre Brasil e Argentina mantinha-se segura, e o país vizinho também estava na corrida nuclear, tal revelação despertaria uma mal estar desnecessário.

Mas a bomba maior o próprio Sarney continha, tomou a decisão de renunciar devido a divergências com o Congresso Nacional, mas Sarney continuou na presidência, e antes disso ouviu um conselho de Tancredo. O ex-presidente revela que para que a dupla vencesse a eleição e posteriormente não haver reação militar, deveriam adotar uma articulação onde seria fundamental a escolha do Ministro do Exército. Então o escolhido foi o general Leônidas Pires Gonçalves, desse modo, a eleição de Tancredo e Sarney, foi praticamente fruto de articulação.

Mas Sarney tinha problemas com a economia em seu governo, chegou a dizer: “Fui o pior presidente quando fiz o Plano Cruzado 2. Naquele dia tomei a pior decisão entre as opções que me deram.” Com a inflação nas alturas, surge o jovem Caçador de Marajás, “carioca das Alagoas”. Collor perdeu além da presidência, o irmão Pedro Collor, em 1994, sua mãe Dona Leda em 1995 e, o amigo PC Farias em 1996.

Antes disso, Collor sofreria como poucos. No período pré-impeachment, o ex-presidente confessou que quase chegou a cometer suicídio. Trancou-se na biblioteca e iniciou uma gravação em áudio, uma mensagem para a família, mas segundo ele, depois desistiu, lembrando-se de um conselho de Brizola; pedindo para ele não fazer o mesmo gesto de Getúlio.

Fernando Collor sustenta a ideia que não teria sofrido impeachment caso tivesse uma relação mais amigável com o Congresso. “Maioria parlamentar se conquista com salamaleques, churrascos, almoços, jantares, intimidades. Mas não sou de ficar dando tapinha na barriga.”

Segundo ele, tinha uma condição apertada de obter vitória no senado, mas seus correligionários na hora H mudaram de lado, e a única saída foi renunciar, que de qualquer forma não teve maiores efeitos.

Collor nunca teve uma boa relação com Itamar Franco, o escolheu porque precisava de alguém de Minas Gerais, como um candidato conhecido por fazer política no Nordeste, seria importante que alguém de uma região importante do país o acompanhasse. Itamar desistiu diversas vezes de ser o vice de Collor antes das eleições. Alguns anos após, ele se referia a Itamar do seguinte modo: “Itamar é uma negativa de que há vida inteligente na terra”.

“Vice? Não tê-lo, não sê-lo e, de preferência, nem vê-lo.” Fernando Collor de Mello.

Interessante, como a vida apronta surpresas. No Rio de Janeiro, quando criança, Collor saia de casa para ir à escola, quando passou pela sala, encontrou um homem à espera de seu pai, este homem lhe deu um conselho. “Não se esqueça: só vence na vida quem estuda. Estude muito.” Quem dava o conselho era nada menos que Jânio Quadros.

Anos após, Jânio seria informado de que não poderia disputar as eleições de 1989 porque outro candidato já teria tomado seu espaço. Não teria mais chance para Jânio Quadros, este candidato era Collor. O jovem presidente cometeu um erro crasso ao tentar estabilizar a economia com o Plano Collor e se arrepende muito disso, em seu próprio governo o economista André Lara Resende propôs um plano audacioso para a estabilização da macroeconomia, mas em pouco tempo teve de deixar a presidência e, Fernando Collor mais tarde descobriu que tal plano tratava-se nada menos do Plano Real.

Seu vice, não muito querido, assume o poder em seu lugar. Mas o momento é extremamente perigoso, então surgem dois deputados e um senador sugerindo a Itamar que fechasse o Congresso, os parlamentares defendiam que existia corrupção generalizada na Comissão de Orçamento na época, em 1993.

“A imprensa achava que eu era bobo porque fui deixado Fernando Henrique ser ‘primeiro-ministro’. Era proposital”.  Itamar Franco

O ex-vice de Collor, depois de ter ajudado Fernando Henrique a chegar à presidência, não nutria mais uma boa relação com o tucano. Itamar disse que Fernando mudou bastante, algum tempo depois de virar presidente, que ele era bastante diferente quando ainda era senador da república. “É hoje um homem que pensa que inventou a democracia. Pensa que inventou o Plano Real.”

Pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) Fernando Henrique Cardoso foi o segundo candidato mais votado do partido. Seu apoio veio do metalúrgico, Luis Inácio Lula da Silva em 1978. Em 1983 o chamado príncipe da sociologia assumiu sua cadeira no senado, pois Franco Montoro tornou-se governador de São Paulo.

Durante seu governo Fernando Henrique recebeu sugestões surpreendentes. Ele conta que Bill Clinton (na época presidente dos Estados Unidos) sugeriu ao presidente brasileiro que o país fosse mais presente na Colômbia e mesmo no Oriente Médio, na verdade, seria uma presença militar. Outra surpresa teve ainda enquanto chanceler de Itamar Franco. Na época, o secretário de estado americano, chegou a indagar Cardoso sobre uma informação de que o Brasil estaria obtendo material bélico da Rússia a fim de produzir mísseis.

Embora o bizarro fosse mesmo outra coisa. Antes das eleições para a prefeitura de São Paulo, Fernando Henrique tirou uma foto na cadeira de prefeito. Além de derrotar Fernando Henrique, Jânio Quadros desinfetou a cadeira, típico da riquíssima personalidade do também ex-presidente.

Apesar de Itamar ter falecido em 2011, a incrível contribuição/participação desses quatro importantíssimos ex-presidentes é inegavelmente relevante. Juntos formam um período decisivo para a história do país. O Brasil que hoje está entre as maiores potências do mundo, é fruto fundamentalmente dos governos então lembrados, repletos de erros, acertos e experiências nunca antes vividas. A história do nosso país é também assim, como muitos brasileiros não sabem, cheia de curiosidades, de momentos compartilhados por poucos, mas que foram diretamente decisivos para o que hoje sabemos do Brasil.







































domingo, 11 de março de 2012

Duas Copas e Alguns “Brasis” no Meio

16 de Julho, 1950.


    A seleção brasileira abriu o placar aos 47 minutos com gol de Friaça. O Uruguai, 19 minutos depois, empata a partida com Schiaffino: o empate dava a vitória aos brasileiros. Entretanto, aos 79 minutos, Ghiggia vira o placar para os uruguaios, dando o segundo título ao Uruguai, em torno de 200 mil pessoas em silêncio veem o término da Copa de 50, o início de um famoso fato histórico para o esporte mundial “O Maracanaço” e o sonho de ser campeão se tranformar em frustração.

    Era um ano antológico para o país, o Brasil sediava a Copa do Mundo de Futebol após a Segunda Guerra Mundial, no dia 18 de Setembro foi inaugurada oficialmente a televisão brasileira e, portanto, a Copa não pôde ser transmitida, pois o evento ocorreu entre os dias 24 de Junho e 16 de Julho. Em 1950, apenas 20% da população brasileira era da zona urbana, contando com os 80% da zona rural, somavam-se 53 milhões de habitantes.

    Naquele ano, o atual presidente, Eurico Gaspar Dutra (PSD), além de receber a Copa do Mundo no Brasil, viu o então na época senador, Getúlio Vargas (PTB) ser eleito presidente do Brasil com 47,8% dos votos, marcando sua volta ao comando do país, ao som de sua marchinha colocando o retrato do velho na parede mais uma vez.

    Enquanto o mundo chegava a quarta fase da industrialização (ou fase final), os brasileiros conheciam apenas empreendimentos centrados na produção de bens perecíveis e semiduráveis, que por seu caráter imediatista, a oferta de seus produtos não passava do contingente da demanda, isso muda mais tarde com a política de indústria nacional pesada no segundo governo Vargas.

    Há pouco mais de dois anos para a Copa de 2014, o atraso nos preparativos para o mundial está extrapolando o limite da educação entre autoridades responsáveis pela organização do evento. Contudo, parece que já estamos acostumados com expectativas do gênero, pois o jornalista esportivo Teixeira Heizer descreve o clima da Copa de 1950: "O que havia naquela época era essa perspectiva sombria de que não ia dar certo, de que não íamos ter o estádio pronto a tempo da Copa. Era uma expectativa dolorosa de que não íamos fazer a coisa a tempo, como hoje também". Os cariocas temiam que o Maracanã não ficasse pronto a tempo.

    Em 2014, o filme é parecido, será ano de eleição presidencial e assim como Getúlio Vargas, o provável é que a atual presidenta Dilma Rousseff (PT) tente reeleição, caso o ex-presidente Lula não queira ser candidato novamente. Mais provável ainda será o clássico embate entre PT x PSDB. Embora as semelhanças, entre as duas Copas são 64 anos de incríveis transformações nos mais diversos aspectos.

    Nesse meio-tempo o país passou por um regime militar, redemocratizou-se, presenciou o impeachment de um presidente, viu a renúncia de outro, conheceu altos e baixos na Economia até se estabilizar com o Plano Real em 1994, então a partir daí entrou numa fase de desenvolvimento contínua. Abraçando a ideia de abertura para a política externa e prezando por boas relações internacionais, aos poucos a nação que se entristeceu com a derrota na Copa de 50, começa a vencer, especialmente a partir da década de 90. A população saltou de 53 milhões para quase 200 milhões, indicado pelo último censo realizado em 2010.

    O Brasil saiu da posição de indústria baseada em produtos perecíveis, para a 6° economia do mundo, e estimativas contam que o país será o 5° mais rico em 2014. Houve significativa redução da pobreza. Na década de ouro o evento foi realizado em seis estádios de futebol, em 2014 será o dobro. O próximo evento será infinitamente distinto daquele em que o Brasil foi vice-campeão, serão 64 anos de fatos decisivos, é outro país, outra realidade.

    Estão sendo gastos com a Copa do Mundo cifras de dinheiro a se perder no horizonte, mudanças na infraestrutura bastante significativas serão feitas. Apesar de todos os problemas, divergências, atrasos, no ano da próxima Copa do Mundo de Futebol, o país sede já é uma potência econômica e em 2014 será ainda maior. Será um evento essencialmente distinto daquele precário que foi em 1950, foram muitos “Brasis” nesse tempo, o caráter social encontra-se em outra dimensão, a política e seus agentes vivos trabalham desde já para a eleição de 2014, a economia brasileira conheceu a saga descrita por Miriam Leitão e estará numa proporção que seria impensável em 1950. Entre 12 de Junho e 13 de Julho de 2014, será visto em campo o efeito de muitos “Brasis” ao longo da história nacional.