domingo, 15 de julho de 2012

O Preço do Discurso






"Se prestares atenção no teu discurso, perceberás que ele é guiado pelos teus propósitos menos conscientes." (George Eliot)



Através de intensos estudos sobre os discursos de grandes oradores, Demóstenes tornou-se um político cuja oratória virou referência, a brilhante demonstração da capacidade intelectual de homens de seu tempo.  Em decorrência de suas escolhas políticas, Demóstenes, ao ver-se cercado por inimigos, cometeu suicídio, foi o fim da carreira política e vida de um dos maiores oradores que a Grécia antiga conheceu.

Ao escrever no prefácio do livro editado pela OAB, em comemoração a Lei Da Ficha Limpa, lei na qual o ex-senador Demóstenes Torres foi relator, ele deixa escapar o sentido mais evidente de seus discursos no Senado Federal, ao dizer que há um número de “bandidos abrigados na vida pública”.

O Demóstenes brasileiro parece se espelhar fielmente no Demóstenes grego, a oratória marcante do ex-senador sempre se mostrou muito perto do ideal nas palavras articuladas, na defesa suprema da conduta parlamentar, na manutenção da honradez com a qual falava sobre política e sociedade.

Mesmo a gagueira ora enfrentada por Demóstenes grego, parece incorporada pelo Demóstenes contemporâneo na forma amedrontada e insegura com a qual demonstrou no último discurso como senador. Se for atestado de culpa ou não, essa é outra questão.  Contudo, parece que o segundo optou pelo suicídio antes mesmo de ser cercado por seus “inimigos” e até mesmo, correligionários.

A diferença entre os Demóstenes’s é o tempo de morte. O político que aqui conhecemos já se encontrava “morto” quando se percebeu cercado por seus semelhantes no plenário do Senado Federal. Apesar do tom dramático, declarando nas entre linhas humilhação na condição em que estava. Este Demóstenes encontrou dezenas de braços cruzados e olhares incrédulos, “juízes” convictos do veredito a ser concretizado.

A semelhança entre os dois Demóstenes’s se acrescenta na negativa em “entregar-se” aos “opositores”. Na busca desesperada até o último momento para fugir do efeito proveniente de suas escolhas. Séculos os separam, em contrapartida, a política os uniu numa mesma certeza: Todo discurso tem seu preço.






terça-feira, 10 de julho de 2012

A Divina Ciência: Bóson de Higgs





Construído no Centro-Oeste europeu, na fronteira entre França e Suíça, a cerca de 100 metros solo adentro, compreendendo 27 quilômetros de extensão. O chamado Grande Colisor de Hádrons (LHC) é um túnel no qual concentram-se os mais importantes experimentos científicos de todo o mundo.

O LHC é um gigantesco acelerador de partículas que custou nada menos que US$ 10 bilhões. Porém, não fica muito difícil imaginar o que seria a maior máquina já construída na história da humanidade ao inserir no atual contexto a obra cinematográfica, Anjos e Demônios (filme de Ron Howrd, 2009).

No filme há um episódio onde uma quantidade de antimatéria é guardada em uma caixinha e utilizada como ameaça para destruir o Vaticano.  Na trama, a antimatéria em questão é produzida no Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), exatamente o local onde está localizado o LHC.

Dado por isso, matéria é qualquer coisa que ocupa um lugar no espaço e possui massa, formada por átomos e partículas, que por sua vez são os elementos fundamentais da matéria, as menores partes.  De tal modo que a antimáteira é a junção de antipartículas, que por sua vez são partículas com carga elétrica inversa da partícula comum.

Leia-se o exemplo: pósitrons são elétrons com carga positiva ao invés de negativa

No filme, a ameaça se explica do modo de que quando a antimatéria entra em contato com a matéria comum, essas partículas iguais, mas com carga elétrica diferente, colidem para uma explosão emitindo radiação à velocidade da luz, o que causaria uma destruição arrasadora,  evidentemente no contexto da ficção em questão.

Dentre as partículas que formam a matéria, a mais importante, que realmente é responsável pela formação da massa de tudo que existe é a Bóson de Higgs, de acordo com o que argumentam os especialistas.

Acredita-se que esta seja a partícula subatômica fundamental para que se compreenda como as outras partículas ganham massa formando a matéria, o que teoricamente explicaria a formação do universo e de todas as coisas.

O Bóson de Higgs é totalmente compatível com a teoria do Big Bang (criação do universo). No momento exato do Big Bang a temperatura era infinita, não existia matéria, apenas energia, onde partículas viajavam na velocidade da luz, o que dificultaria interação entre elas e, por conseguinte, não se formava matéria.

Num dado momento a temperatura do universo baixou para 100 bilhões de graus, deste modo foi possível o surgimento das partículas quarks e léptons, responsáveis pela formação do átomo.  A partícula Bóson de Higgs, dotada de energia, começou a atuar no chamado Campo de Higgs, que também surgiu após o resfriamento. 

O campo de Higgs, sob o efeito da energia da Bóson de Higgs acabou por criar resistência ao movimento das partículas, deste modo ficou mais propício a colisão entre elas e a formação da massa, haja vista algumas partículas começarem a se movimentar de forma mais lenta. O Campo de Higgs é um imenso vazio cheio de partículas em intensa atividade de colisão, como ocorre todo o tempo no universo.

O maior acelerador de partículas já construído faz o mesmo processo que ocorre no universo: Prótons (partículas do núcleo do átomo) são colocados em sentidos opostos até atingirem algo muito próximo da velocidade da luz, algo em torno de 99, 9999991% desta velocidade.

 Logo, em determinado momento elas colidem, os fragmentos que restam do forte impacto são outras partículas, dentre elas há a que irá determinar a maior freqüência das próximas colisões, a Bóson de Higgs.

 Mesmo em face da gigantesca importância que se atribui ao evento que pode mudar e ou confirmar para muitos, a concepção de mundo, de nós mesmos, há quem desconfie da existência da Bóson de Higgs.

Quando foi anunciada a criação do Cern, pessoas do mundo inteiro acreditavam que a grande máquina, o LHC, faria um buraco no interior da terra, levando todos a um fim catastrófico. 

Após o anúncio da criação de uma partícula cujas características levam a crer que se trata da Bóson de Higgs, físicos americanos se dizem acreditar que seja na verdade umas das duas variedades exóticas da primeira, mas não a própria partícula.

Embora a teoria seja defendida há quase 50 anos e o físico inglês Peter Higgs tenha previsto a existência da partícula na qual seu nome surgiu do seu próprio sobrenome, o que se tem a pensar é, sobretudo, como e o quanto a confirmação do evento pode interferir no pensamento de milhares de pessoas e guiar a humanidade para novas possibilidades. 

Na ótica de pensar o “de onde viemos para então sabermos para onde vamos”, para muitos pode interferir diretamente em sua concepção de mundo.

Além da Bóson de Higgs ser chamada de Partícula de Deus por conta de uma alteração do título de um livro cujo nome seria The God Damn Particle, porém resolveu-se tirar o “damn” e assim permaneceu apenas The God Particle (A partícula de Deus), o que interfere diretamente é a provável nova descoberta se contrapor essencialmente sobre toda a ideia compartilhada de que Deus foi o responsável pela criação do universo e de todas as coisas.

Apesar de alguns cristãos defenderem a conciliação entre ciência e religião, sabe-se que a sustentação da fé é propriamente oriunda da explicação divina para a formação do cosmo, o criacionismo é utilizado por distintos segmentos religiosos como forma de garantir a legitimidade da razão de ser daquela religião.

A ciência, ao chegar muito próxima da explicação responsável pelo entendimento do início de tudo, se contrapõe de forma quase gritante, sobre a crença de milhares e que acreditam na formação de tudo que existe a partir de forças sobrenaturais, divinas.

Hoje, a ciência é a matéria-prima para a tecnologia do futuro próximo, para efeitos globais, a Bóson de Higgs pode alterar importantíssimos aspectos do modo pelo qual a energia é entendida e produzida, justificando dessa forma o investimento de 20 bilhões de euros neste projeto.

Apesar do teor controverso, o mais interessante seria que a partícula conhecida não fosse a própria Higgs, isso demonstraria que a complexidade na formação da matéria é ainda maior, elevando o homem a patamares mais distantes ainda, dando legitimidade a razão de ser da ciência divina de tão extraordinária que é: a permanente busca por respostas impossíveis, até determinado momento.