terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Povo Brasileiro em 3 versões

     Com uma visão um tanto otimista sobre o processo de modelagem chamado por Darcy Ribeiro como “neobrasileiro”, tanto ele que como Sérgio Buarque de Holanda, aponta se não todos, mas quase a totalidade dos aspectos que explicam o bolo resultado da íntima relação entre as raças. A famosa mestiçagem longamente descrita pelos dois autores chega numa perspectiva otimista, mas ao mesmo tempo, de certo modo, sem uma definição clara do que é o povo brasileiro. Mas que sim, uma mistura tão íntima que se torna impossível dividir claramente parcelas de gêneros.

      Há de se perceber a importância dos primeiros contatos entre índios, negros e portugueses, assim como todo o processo posterior da mistura entre esses povos. Em seu livro, Raízes do Brasil, capítulo 2. Sérgio Buarque de Holanda propõe que um fator fundamental para que os portugueses adotassem relações diretas com os índios, deve-se à sua fraca identidade, ao pouco orgulho racial destes. Diferente dos holandeses, por exemplo.

     Darcy Ribeiro coloca a figura da índia, a figura da mulher mais importante no processo de mestiçagem, pois a partir das relações com os portugueses e com os negros, que começaram a surgir os brasileiros como povo híbrido, havendo neste momento, uma predominância do índio sobre o branco, conferida nesses “neobrasileiros”. Embora se defenda a cordialidade do brasileiro, Darcy Ribeiro expõe uma retrospectiva de conflitos que divergem em certo modo de tal premissa, sinalizando estes de caráter étnicos, sociais, religiosos, econômicos e raciais, iniciando pela Cabanagem chegando a Canudos e prossegue ao longo da história.

     Já Sérgio Buarque de Holanda, começa o capítulo 2, (pág. 44) fazendo uma clara distinção entre o aventureiro e o trabalhador, colocando a partir desta ótica, a figura do colonizador aventureiro, que propondo a adaptar-se ao meio, sem precisar de maiores esforços, apenas se alinhou às condições que a terra oferecia, contribuindo direta e ou indiretamente para o atraso do desenvolvimento da colônia. Como na passagem: “Onde lhes faltasse o pão de trigo, aprendiam a comer o da terra, e com tal requinte que – afirmava Gabriel Soares – a gente de tratamento só consumia farinha de mandioca fresca, feita no dia.”

     Ribeiro, diz que o Brasil é economicamente falando, resultado da ação de quatro gêneros empresariais, embora o principal deles seja a empresa de cunho escravista, exatamente pelo sucesso da efetividade em latifúndios. Holanda concorda no sentido de atribuir à grandiosa quantidade de terra, o sucesso da monocultura da cana-de-açúcar, colocando o insucesso no emprego da mão-de-obra indígena, mas que deu certo com a africana, compreendo este formato agrícola, a unidade de produção, explicitando a dificuldade no uso do arado por conta da floresta mais densa, diferente da floresta na Europa, por exemplo.

     Aliando-se as tais perspectivas, Otto Alcides coloca que a monocultura no Brasil se deu com a implantação do regime da sesmaria, que de fato não obteve sucesso, surgindo em seu lugar verdadeiros latifúndios. Ainda segundo o autor, desenvolveu-se uma tímida produção agrícola de subsistência, responsável em parte, ao crescimento demográfico, de modo que encontra-se nesse tipo de cultura uma manutenção dos privilégios dos latifundiários,  mantendo dessa forma, uma organização social de subordinação.

     Enquanto Otto afirmava que as pequenas lavouras eram mantidas por colonos pobres, mestiços, índios “civilizados”, Buarque expõe que o negro era elemento primordial para o desenvolvimento do latifúndio colonial. Otto coloca ainda que as relações sociais baseadas na produção caracterizavam-se da seguinte forma: semi-escravistas no trabalho de extração na floresta, camponês na pequena lavoura, escravista na monocultura e escravista e de assalariamento na pecuária.

     Ainda de acordo com Otto, os primeiros passos para a estruturação da sociedade brasileira é justificada através do aspecto econômico que de longe sempre foi a maior aspiração do Estado português. A base social compreendida por escravos em contraponto com a outra ponta superior composta pelos senhores donos de grandes propriedades rurais, foi o formato social que garantiu o Brasil como unidade de produção agroexportadora. No entanto, esta organização começou a sofrer com abalos com divergências entre a colônia e o Estado português, que não mais pode permanecer fiel ao pacto colonial, frente à revolução industrial da Inglaterra.

     Em continuidade, o autor diz que o modo capitalista, fez com que o escravismo fosse substituído pelo assalariado. Onde ocorre uma transformação estrutural na sociedade de então, que antes passou da antiga classe cafeeira para a burguesia agrária. Mas que a burguesia comercial só concretizou-se com a abertura dos portos. Já Darcy Ribeiro cita que portos foram criados para a exportação da borracha, por exemplo, isto é, fatores econômicos agiram diretamente para as transformações no aperfeiçoamento de todo o mapa social do Brasil.

     Embora lembrando que os holandeses enriqueceram Recife, Darcy Ribeiro atenta-se para o resto do país, onde a urbanização foi influenciada pela abolição, pelo desemprego na Europa, que fez com que em torno de 7 milhões de europeus imigrassem para o Brasil, atribuindo a esses, o surto da industrialização e contabilizando posteriormente o contingente urbano que crescia de forma acelerada. 

     Buarque de Holanda intensifica a idéia de urbanização fazendo uma distinção entre o processo colonizador dos holandeses em Pernambuco e dos portugueses no resto do Brasil.
 “Ao passo que em todo o resto do Brasil as cidades continuavam simples e pobres dependências dos domínios rurais, a metrópole pernambucana vivia por si. (pág. 63)”

     Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Otto Alcides Ohlwiler, fazem um apurado do conjunto social nacional, desde seu nascimento entre a interação de raças, até a urbanização e a organização mais recente, ganhando força, sobretudo, fatores econômicos, montando e adicionando corpo à estrutura social, hoje amplamente reconhecida por seu fator determinante e mais relevante, a hibridização do componente social brasileiro.


domingo, 23 de outubro de 2011

Viver em Rede no Século 21

    Talvez os agentes promovedores dos avanços na esfera tecnológica, não soubessem claramente a ponta exata em que fosse findar seus projetos. Talvez nem mesmo fosse essa realidade o anseio idealizado. Ocorre que uma vasta parcela de todo avanço destina-se direta ou indiretamente para fins mercadológicos, e por isso, ao invés de se enquadrar em valas sociais, acaba por a própria sociedade alinhar-se às novidades.

    A internet por si só, surge como o elemento de maior força democrática até então. Rádio e TV, estes possuem um maior alcance, evidentemente – contudo, há de se conceber que a internet como única ferramenta, permite uma direta participação do usuário. Eis o segredo de tamanha popularidade, eis a razão por se dizer democrática. Estar conectado é consumir diretamente a globalização, é ser o indígena da aldeia global, é antes de tudo, mostrar para todo o mundo, o seu mundo.

    A democracia está no sentido de que todos em que nela estejam, dela possam participar – mas para além disso, influir na migração da democracia para o campo concreto. Talvez os pioneiros da internet não tivessem pensado, e provavelmente não pensaram que esta seria a ferramenta que ditasse o ritmo de setores fundamentais no mundo inteiro, talvez nem imaginassem que um avanço tecnológico derrubasse governos totalitaristas chumbados em suas convicções e poderio ditatorial.

    Viver online neste momento é viver a agenda pública e melhor do que isso é fazê-la. Provavelmente todo o fascínio que produz o despertar do interesse em estar conectado, seja a ideia de contribuir com os fatos, com a opinião, com a formação de uma gigantesca plataforma de informações. A internet, sobretudo nesta era, cumpre com o papel de ser o promovedor de alguns anseios explícitos na Declaração Universal dos Direitos Humanos do Homem.


Artigo 19°: Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.


    Viver em rede, neste momento é contribuir com mudanças em todos os aspectos, é direcionar toda a sociedade para o caminho intercultural, é apurar e difundir diversidade, é fazer da democratização da informação, o determinante de hábitos e comportamentos coletivos, é expandir ideias, é pensar o mundo, mas não só no mundo. É encurtar distâncias, é viver de fato e, não apenas existir.





quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Raiz da Violência que Migra

     O mapa psicológico e mesmo real da violência no país, comumente baseava-se no Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro, sobretudo. A urbanização desprovida de organização garante alguns dos aspectos contribuintes da violência urbana.  

     Dados mostram que em 1999, a taxa de homicídios em São Paulo era de 64 mortos para cada 100 mil paulistanos, contudo, registrou-se uma queda em mais de 85%, esses resultados deve-se obviamente a adoção de políticas públicas, tais como: Uma manutenção no aparelho policial, a proibição da venda de bebidas, seguida do fechamento de bares em determinados horários, assim como a alta geração de empregos que por sua vez, reduz a mão-de-obra para a criminalidade. Na última década, o Brasil gerou cerca de 11 milhões de empregos com carteira assinada, mais pessoas trabalhando, menos agentes do crime.

      O que parece ser recebido com certo espanto são os índices recentes que medem a violência especialmente no Norte e Nordeste do país, entende-se por vezes de forma equivocada essa migração regida de forma um tanto acelerada. E por falar em Nordeste, dois estados estão especialmente em destaque: Alagoas e Bahia, os campões no ranking da taxa de homicídios. De acordo com José Maria Nóbrega, professor da Universidade Federal da Paraíba, os índices de violência do Sudeste reduziram em média em 47%, enquanto que no Nordeste os índices dobraram.

     Diante das perspectivas negativas, surgem diversas reações apaixonadas sobre o ponto de vista político, que visam antes de qualquer indagação, justificar a problemática atribuindo a um ou outro governante, especialmente quando se trata de Alagoas, há obviamente uma carência no sentido de se adotar políticas públicas que de fato combatam os agentes da violência urbana, contudo, a raiz de maior predominância é outra.

     Durante o governo Lula, o Nordeste foi beneficiado com programas voltados para o assistencialismo. O “Bolsa Família”, age na transferência de renda para a população extremamente pobre da região. Portanto, cresce no Nordeste crimes relacionados às drogas, que envolve diretamente o chamado “mercado negro” e homicídios. O fato é que os traficantes buscam novos mercados, mais viáveis e, quanto a isso, o Brasil vive um boom econômico, onde segundo o Economista Ricardo Amorim, o Norte e o Nordeste são as regiões que mais crescem nesse momento, devido à política de assistencialismo e ao crescimento espantoso do agronegócio, atraindo migrações de toda espécie.

     Portanto, o levante econômico faz com que num certo momento, o tráfico de drogas seja atingido positivamente e junto com ele, as mortes fatais que estão diretamente relacionadas. Os traficantes que aqui se instalam praticam violentamente a concorrência contra outros traficantes, contribuindo a ação destes para as estatísticas. Não só a questão econômica, mas principalmente, agiu para que a violência no Nordeste brasileiro tomasse tais proporções, não há estrutura urbana e social para que receba tal crescimento de forma que a violência seja contida, será uma questão bastante problemática.  

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Resposta a tal de Heloísa Helena


As Frutas Representativas

                      "A demagogia é a capacidade de vestir
                      as idéias menores com as palavras maiores."
                                                                   Abraham Lincoln


Costumeiramente e, sobretudo na política, os espetáculos sempre são eventos garantidos. Que dirá Otávio Augusto, o então imperador de Roma, vendo a problemática social crescendo de forma assustadora, por conta da escravidão e desemprego no campo, resolve adotar medidas que como diria John Kenneth Galbraith em “Anatomia do Poder”, um dos poderes mais fácil de ser colocado chama-se poder compensatório, aquele em que em troca de alguma recompensa, você é determinado a fazer o que outro deseja para seu próprio proveito. Vendo a viabilidade dessa corrente, o hábil imperador, apoiado por autoridades do império romano, coloca a famosa política de pão e circo, que não se trata só de uma legítima forma de “compensar” o povo por suas insatisfações, mas para, além disso, causar certa amnésia, posto que o pãozinho gratuito combinado ao verdadeiro show de gladiadores fazia com que, sobretudo os pobres, deixassem os problemas de lado. No Brasil, ela atende pelo nome de Bolsa Família e, por falar em Brasil, se tem uma coisa que aqui produzimos no sistema fordista (produção em massa), essa se chama político, temos tantos, que se matarem todos os políticos na China, por conta da corrupção, podemos tranquilamente exportá-los no formato de commodities, assim como fazemos com a soja, é de causar inveja a qualquer país. Não que eles sejam de todo o mal, longe disso, muitos deles são importantíssimos e  fazem um ótimo trabalho, além do mais, que chorem os anarquistas, mas não há como se garantir Ordem e Progresso, sem a presença da categoria, mesmo porque, este último para ser concretizado, dependente necessariamente do primeiro, da Ordem. Porém, como as frutas, que por eventos geralmente externos, diferenciam-se de outras, exatamente no quesito qualidade, nas assembléias pelo mundo, não se espante se encontrar frutas boas e frutas podres, que imediatamente são repudiadas por nossos olhos. Mas é preciso ter cuidado com as goiabas, por exemplo, algumas só se conhecem o “monstrinho” que elas guardam, depois da primeira mordida, a mordida do conhecimento, talvez da prudência. Todavia, muitos, encantados pela aparência e cheiro acabam engolindo o monstrinho, por incontáveis vezes. As goiabas, assim como alguns políticos, utilizam algum artifício para lançar seu encanto, nem que seja por alguns instantes, já é de extrema valia encantar, mesmo que seja breve. Eles, que assim como as goiabas sem serventia, tentam, e muitos conseguem, iludir com acessórios de sua natureza, aos que são providos de uma determinada inocência, cuja causa costumeiramente é decorrente da instrução adormecida. Porém, não julguemos as goiabas, elas não falam, os políticos falam, falam tanto, que alguns transformam seus discursos numa única categoria, a famosa demagogia, que na verdade não passa de um conjunto de falácias, idéias compradas na loja “Fantasia”. Tudo isso faz parte do espetáculo, descrito pelo francês Guy Debord em “A sociedade do espetáculo” onde ele diz que a alienação é mais do que um aspecto psicológico ou descrição emocional, está imposto aí a condição social, sobretudo. Portanto, alguns que se dizem discípulos da justiça social, através da política, praticam diariamente a demagogia, utilizam-se de discursos pré-históricos, de cunho pseudo-comunista, cheios de loucuras e divergências a tudo e a todos, para encantar os que não deram a mordida da prudência/conhecimento, isto é, os fanáticos, que por vezes não são convictos de suas idéias. Determinadas figuras, desprovidas de oferecer algum benefício, contrariando a essência de sua função, utilizam-se da retórica para fazer apelações emocionais para ganhar o apoio popular, e dessa forma se manter entre as frutas boas. Mas é bem verdade, que o uso da demagogia, idéia política baseada em argumentos de vidro, não permanece por muito tempo. No século XIX Abraham Lincoln já dizia: "Pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; Pode-se enganar todas as pessoas algum tempo; Mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo. Em outras palavras, deve chegar um momento em que as cortinas caem, o espetáculo é desmontado, o ator volta à sua face real e a fruta, essa entra em rápida decomposição. Tudo resultado de uma política fraca, sem argumentos, sem verdades, sem ações concretas que visem de fato o bem coletivo.  Esse tipo de político, quando é questionado simplesmente responde com adjetivos/classificações que mais parecem nascer de mente pequena e, sobretudo, tola.
Que ninguém se engane, as frutas podres têm um destino certo: A rápida decomposição no lixo, na presença de ratos e baratas, enquanto que as boas alimentam quem tem fome. Portanto, se tens posições, coloque-as verdadeiramente, pois assim, mesmo que seja contrário aos outros, será digno de defender o que convêm seu entendimento, mas não faça como alguns que escondem as garras por trás da tribuna, esses que chorem pela vergonha de serem podres e, por esse motivo, desprezíveis.


Breve Observação

Na condição de cidadã, eleitora ou qualquer outra categoria que caiba colocar: Estou atenta a tudo e a todos. Acompanhando especialmente atividades realizadas por políticos do Estado. Portanto, que fique claro minha função, fiscalizar. Acrescento que numa sessão na Câmara Municipal de Maceió, a então vereadora por nossa capital, Heloísa Helena (PSOL) confirmou que votou a favor do aumento de salário dos vereadores , contrariando assim a resposta que recebi via Twitter, diga-se de passagem. Porém, a vereadora disse que votou sem ter prestado a devida atenção. Ora, nobre vereadora, você é paga para no mínimo cumprir sua função, se você que é vereadora não tem compromisso para com uma decisão que implicará exatamente em mais gastos para os cofres públicos, incluindo evidentemente, aqueles que votaram em você, por que então a senhora ocupa a cadeira? Por que esbraveja tanto quando o assunto é gasto, se na prática não dá a mínima importância para algo de tanta relevância? Francamente, fico descrente com tanta falta de compromisso por parte de alguns políticos, mas para, além disso. Justificativas de gelo, quando expostas, se desmancham com uma facilidade impressionante e, antes de atestar qualquer falta de compromisso, lembre-se: O local chama-se Casa de Mário Guimarães, mas não, Cirque Du Soleil.  E a propósito, ainda farei muitos questionamentos, esse é só o primeiro.




OBS: Portanto, em unanimidade, NENHUM VEREADOR FOI CONTRA AO AUMENTO DE SALÁRIO.


Do mesmo modo que Jornalismo bom é o que fala a verdade, político bom é o que no mínimo coloca suas verdadeiras posições, porque esbravejar loucuras, qualquer  idiota sabe.