domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre Justiça


"Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo."
(Albert Camus)

A princípio, justiça necessariamente no campo jurídico implica basicamente em igualdade de direitos. Ocorre que justiça vai muito além das leis do regime democrático.

Basta pensar que a própria igualdade pode ser injusta do ponto de vista individual, a igualdade pensada sobre o regime democrático de direito, exatamente por conter injustiça na democracia.

Ou será justo prevalecer sempre a voz da maioria? E se a maioria estiver errada? Se a minoria não tem o direito de decidir, onde há igualdade? A minoria precisa ter pelo menos o direito de ser ouvida, e talvez mude o pensamento (também talvez) errôneo da maioria. Neste caso é a democracia injusta subtraindo o direito de alguns.

Sob esse ponto de vista, é injusto pensar na importância da individualidade? Mas se somos pessoas diferentes, divergimos em algo aqui e acolá, logo, supõe-se que não existam duas pessoas exatamente iguais em pensamento.

Portanto, individualismo parece-me mais justo do que simplesmente adotar dicotomias gerais entre o que é justo ou o inverso, que facilmente encontrarão argumentos divergentes.

Justiça passa então para o campo da subjetividade, o que não significa que seja impossível defini-la. O que não se trata de definir que a justiça deva ser necessariamente individualista, mas que partir tão somente do pressuposto de igualdade (ou tão necessariamente democrática) arbitrariamente não deve ser justo.

O filósofo John Rawls, conhecido por sua obra “Uma Teoria da Justiça” cujo ensaio possui um caráter emblemático, adotou a liberdade e a igualdade para definir seu ideal de justiça. 

Rawls, parte do contratualismo de Rousseau e atribui valoração às instituições que, segundo ele, são responsáveis por legitimar o caráter igualitário ao corpo social, mas para isso, as instituições precisariam ser justas.

No entanto, Rawls considera o princípio da liberdade superior ao princípio de igualdade, o que poderia definir sua teoria da justiça em “liberalismo igualitário”. Ocorre que outros pensadores da filosofia política, adotando outras correntes, lançaram críticas à teoria de Rawls.

Como Robert Nozick, que foi seu colega em Harvard, critica o teor igualitário. Este último, um autor libertário, defende um Estado mínimo, destinado tão somente a proteger seus cidadãos do uso ilegítimo da força, que defenda o contratualismo firmado entre esses cidadãos.

No entanto, Nozick não defende a inexistência do Estado, posto que isso acabasse com direitos fundamentais para garantir a liberdade, por exemplo. O que é fundamental que se pense.

Mas há, retomando as formas de Hegel, um caráter esquerdista mais conversador de alguns autores cujo discurso se assemelha ao comunitarismo. Mais contemporâneo, há Michael Sandel, defensor desta corrente, que atualmente é professor de Harvard, há 30 anos no curso de Justiça, esteve em agosto deste ano no Brasil, realizando palestras.

Sandel critica a forma dita por Rawls de que as pessoas “escolhem” seus fins, seus objetivos de vida. De acordo com Sandel, justiça é fazer o que é certo, e o certo é pensar o ser em comunidade. 

Na internet há facilmente vídeos onde o professor cita o filósofo Kant como alguém que defendia a dignidade das pessoas... A justiça para Sandel é algo inserido necessariamente no conjunto social.
Após várias críticas sobre a sua teoria da Justiça, Rawls lançou outra obra “O liberalismo político”, era um aperfeiçoamento de sua teoria de justiça.

Nozick, Sandel e Ralws são apenas três exemplos do quanto a teoria sobre a justiça está passível de mudanças. E aí abre-se espaço para pensar: Será que a relação entre pobres e ricos é realmente injusta? É justa a igualdade de direitos? E os direitos, são mesmo justos? Será que nós sabemos o que realmente é justiça? Será que duvidar do teor justo da justiça é injusto?

Até as leis são passiveis de diversas interpretações, é por isso que a justiça, como um dos alicerces do Estado, é tão relativizada. É trivial parar para pensar sobre como ser justo com a justiça de si e dos outros.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Futuro (Próximo) do Planeta





Um importante passo foi tomado com a aprovação da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Palestina se tornar Estado observador não-membro, recentemente. Que, embora tenha um valor, sobretudo, simbólico, poderá contribuir para a formação dos dois Estados que, em tese, poriam fim aos conflitos entre israelenses e palestinos.

Porém, Israel e Estados Unidos, por exemplo, acreditam que a aprovação na instituição não influenciará na formação de dois Estados.  O conflito militar, que há poucos dias se intensificou após a morte do chefe do braço militar do Hamas, Ahmed Jabari, por um ataque do exército israelense, é importante para o futuro do globo.

Os desdobramentos dessas ofensivas poderão interferir e alterar o cenário conflituoso entre árabes e israelenses em alguns anos.

A economia guiada por diretrizes globais, aos poucos vai modificando a geopolítica entre os países, e o mundo nas próximas décadas poderá ser nitidamente distinto do que se conhece hoje.

O planeta caminhará cada vez mais de acordo com a velocidade do capitalismo informacional, este que estará assentado na incrível evolução da tecnologia dando respaldo principalmente à tecnologia da informação que, condicionará o comportamento das sociedades cada vez de forma mais intimista.

Já em 1997, o filósofo da informação, o francês Pierre Lévy publicou sua mais conhecida obra, chamada “Cibercultura”, onde demonstra o quanto o caminho seguido pela humanidade toma por base a relação sociedade e mundo virtual.

Deste modo, os países que dispuserem de maior poder tecnológico, muito provavelmente terão força entre as nações, também pelo fato da tecnologia possibilitar o desenvolvimento de armamento militar sofisticado e até de alcance global.

O Diretor de Pesquisa do Google, Peter Norvig, afirmou que em 2020 o conteúdo da internet será uma mistura de texto, fala, imagens estáticas e móveis, além de narrativas de interações entre pessoas. (Folha).

Estimativas indicam que a economia global será 80% maior em 2020 do que foi em 2000. Nos últimos anos os países asiáticos figuram o cenário mais promissor do crescimento econômico no planeta, em especial a China, que já é ponto crucial das preocupações do mundo para as próximas épocas.
Alguns afirmam que a comunidade internacional trabalha com incertezas quanto às reais intenções da China, que já em 2012 vai se impondo aos vizinhos (inclusive Japão) com seu poderio econômico e militar cada vez mais forte para anexar à sua área, regiões próximas para tornar-se ainda maior.

A Ásia se assusta com as disputas territoriais protagonizadas pelos chineses. Hoje, eles disputam regiões das Filipinas, Japão, Malásia, Taiwan e diversas pequenas regiões próximas. O que pode aproximar esses países dos EUA.

O país é o centro das atenções porque provavelmente mudará a ordem econômica mundial de forma bastante significativa. Segundo o FMI, em 2016 o Produto Interno Bruto (PIB) chinês medido pelo critério de poder de compra atingirá U$ 19 trilhões e superará o americano (US$ 18,8 trilhões). (Terra).  

Todavia, de acordo com o Banco Mundial, em 2011 o PIB chinês ficou em US$ 7,318 trilhões de dólares, o americano em US$ 15,09 trilhões. Já o brasileiro foi registrado em R$ 4,143 trilhões de reais, de acordo com o IBGE.

Apesar do incrível crescimento dos países asiáticos, qualitativamente não acompanharão o dos EUA e outros países ricos, em aproximadamente oito anos, a classe média chinesa ainda será muito menor que a classe média americana.

A China possui um problema grave, sua população já está em processo de envelhecimento, além de ser uma população bastante numerosa, em breve o país terá que pensar como agir em relação aos habitantes fora do mercado de trabalho por conta da idade, problemas sociais possivelmente influenciarão no crescimento do gigante asiático.

Outro país que emerge no cenário mundial é a Índia, junto com os chineses, são as promessas que configuram os dois novos gigantes políticos e econômicos mundiais asiáticos. Alguns especialistas afirmam que entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) apenas a Índia terá um crescimento robusto em 2012.

Em 2020, há a perspectiva de que a privatização de estradas e da infraestrutura no Brasil será cada vez maior, a política e economia ficarão cada vez mais distantes, exatamente pelo desenvolvimento progressivo de atividades ligadas ao setor privado e o país certamente será uma potência mundial.

Especialistas afirmam que em breve a China precisará aumentar em 150% o consumo de energia para manter o ritmo de seu crescimento, enquanto que a Índia precisará do dobro disso, desse modo, empresas desses países buscarão investir em regiões da Rússia (fundamental para o abastecimento de petróleo e gás para a Europa), América do Sul e Oriente Médio, este último é um campo de incertezas pelas constantes tensões na região.

“O fortalecimento da identidade mulçumana criará uma estrutura para a disseminação da ideologia islâmica radical, tanto dentro como fora do Oriente Médio, incluindo regiões como a Europa Ocidental, o Sudeste Asiático e a Ásia Central.” “a antiglobalização e a oposição às políticas norte-americanas podem reunir um grande número de simpatizantes, financiadores e colaboradores dos terroristas”. (O Relatório da CIA).

Em 2010, o grupo WikiLeaks vazou um relatório da CIA (Agência Central de Inteligência) que cita diversos casos de cidadãos americanos que estariam financiando atividades terroristas.

A expectativa é que a tecnologia seja a chave para o desenvolvimento de diferentes vias para a prática do terrorismo interno e internacional. A tendência é que a Al Qaeda ceda espaço para outros grupos mais fortalecidos pelo financiamento da fabricação de armas, inclusive de destruição em massa.

A divisão entre cristianismo e islamismo no Sudeste da Ásia será cada vez mais assimétrica. O que contribuirá para a instabilidade de grupos radicais islâmicos terroristas.
Grupos mais difusos como Hamas, Jihad, Hizbollah usarão a tecnologia para planejar ataques de frentes tradicionais (armas convencionais), como o bioterrorismo, químico, nuclear e cibernético.

“Embora nenhum outro país chegue perto de rivalizar o poderio militar norte-americano em 2020, mais nações estarão em posição de fazer os EUA pagar um alto preço pelas ações militares que vierem a realizar.” Hoje, o que vem incomodando parte da comunidade internacional é a possível aquisição de armas biológicas, químicas ou nucleares por Irã e Coréia do Norte”. (O Relatório da Cia).

E é exatamente a força militar que mantém os Estados Unidos à frente das relações internacionais.  Num futuro próximo o mundo será também asiático, porém será fragmentado no que se refere às forças políticas. A China é a promessa de potência mais rica, porém preocupa especialistas a possibilidade do país não ter condição política de comportar-se como potência hegemônica, o que poderá manter os norte-americanos ainda à frente a política internacional.

A ética, o meio ambiente, a segurança, a tecnologia e outros temas deverão ser prioritários dentro da opinião pública.  O Brasil, a Indonésia e alguns países do Sul da África também estarão em status de potências econômicas. A política que será definida pela nova ordem mundial, que aos poucos vai se arrumando, sugere que a mudança mais importante seja realmente o fim da hegemonia americana.

A globalização será responsável pela íntima relação entre Ocidente e Oriente, e paradigmas baseados na divisão do mundo (pós Guerra Fria) em Norte e Sul, poderá sofrer uma inversão de valores geograficamente falando. É o futuro do planeta adotando novas ordens.