sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Maceió: Paradoxalmente definida


♪... Ai que saudade do céu, do sal, do sol de Maceió... ♫

Seria extremamente errôneo assegurar só à capital, a crônica problemática em que vive o estado em seu todo. Porém, nos atentemos à Maceió, mesmo porque, está se falando do motor que faz, ou tenta fazer o estado andar, ou nem isso.

O fato maior é que a incompatibilidade entre Maceió e outras capitais, parece ser algo despercebido, invisível, isso é o que mais intriga. Parece que será preciso poderosos microscópios para que esta, que se diz “a sociedade alagoana” veja o desastre tão evidente, mas é certo que microscópios são utilizados comumente para que se vejam planetas, estrelas distantes.

 Mas então, por que se valer de ferramentas para ver coisas que estão longe, se a pobreza está tão perto? Para isso mesmo, por este ângulo é mais fácil se valer de microscópios e ver estrelas, assim deixam de enxergar a miséria que os rodeiam, por toda parte.

O momento pede marchas, protestos, enfretamentos, conflitos em geral, este é o mundo agora. A chamada Primavera Árabe poderia espalhar o seu pólen por Maceió, quem sabe lindos jardins poderiam surgir. Mas alguém poderia dizer: “Mas a primavera árabe é um movimento que clama por democracia e, aqui ela já existe.” Existe?  Existe mesmo essa participação do povo onde não se tem segurança? Onde a educação não chega nem a se alfabetizar? Onde a miséria se espalha feito o vento?  Onde não se fala mais em saúde, mesmo porque ela já caiu no esquecimento desde a sua morte, por falta de atendimento nos hospitais?

Como dizem âncoras de telejornais: Maceió está chamando a atenção do país inteiro (ver vídeo de Bom Dia Brasil). A começar pelos índices que deixam a cidade nas alturas, lá no início de todo e qualquer ranking negativo, prova disso é o número de homicídios em Maceió, que nos últimos 10 anos, subiu 219,5 %, desconsiderando o ano de 2011. No quesito miséria, Maceió está em terceiro lugar e mais, falando-se em desigualdade subimos mais um pouco, estamos em segundo lugar no pódio, considerando uma piora nos últimos anos.

 Não podemos nos esquecer da desigualdade educacional, como é de costume, Maceió se mostra sempre campeã quando esse é o gênero analisado. Porém, há índices em que a capital é colocada em último lugar dentre todas as capitais, ao exemplo, segue-se a freqüência escolar de crianças entre 7 e 14 anos, aqui, tem-se a maior evasão dessa faixa etária nas escolas, todas as outras capitais ficaram à frente de Maceió.

Esses são dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, portanto, incontestáveis. Neste caso, os números são extremamente redundantes e servem somente para efeito de confiabilidade. Outrossim, com a redundância com que se utiliza a imprensa de um modo geral, para citar Maceió em pesquisas que envolvem fundamentalmente índices sociais. É grande também o número de pessoas que por lapso de memória ou qualquer outra coisa, esquecem que fazem parte daquela “sociedade alagoana” e com todo fervor criticam os políticos e, colocam todos eles na mesma categoria.

 Muitos dessa mesma sociedade, que critica a ela mesma e esquece de que também está falando de si, fala com autoridade de todos os países do Oriente Médio juntos, esquece toda e qualquer educação e respeito, mas sabem sim, criticar com argumentos comprados no Paraguai, que apenas repetem outros “indignados” e desinformados. Os governos são reflexos de sua sociedade e, isto é inquestionável, não que eles sejam de todo o mal, não estou cá defendendo a categoria, mas generalizar é apenas resultado da falta de conhecimento.

 Basta que essa sociedade olhe para si, basta que a sociedade residente em Maceió, sobretudo, guarde o microscópio e volte seus olhos para a infância miserável presente a qualquer esquina, a qualquer semáforo, basta que ao invés de microscópio essa sociedade use óculos, óculos da sensibilidade, talvez seja exatamente esse o problema, talvez seja a ausência total de sensibilidade de muitos, que não deixam que estes mesmos enxerguem o lixo nas ruas, as pessoas nas ruas, a poluição, a violência, a corrupção, a prostituição, a miséria incontável.

Talvez, quando esta sociedade encontrar a tal sensibilidade, irá perceber que Maceió passou de “Paraíso das Águas” para “Paraíso das Armas”, porém cabem aí as duas definições, por isso, a sensibilidade mostrada pela natureza, pede socorro, pede pelo paraíso agora distante. Talvez nós enxerguemos, talvez.














Um comentário:

  1. Espetacular o seu texto sobre a atual condição de miséria do nosso Estado. Sua estrutura textual é bem interessante, rápida e bem embasada, o que reflete bem o seu lado Jornalista. Ainda sim, por tudo que você fala, não aqui, mas no twitter, imagino você, não como jornalista, mas como advogada.
    Parabéns pela perspectiva do seu blog, fixando os seus temas nas problemáticas regionais.

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