domingo, 31 de julho de 2011

Porque os pernambucanos exaltam tanto sua cultura, diferente dos alagoanos.

Em entrevista cedida pelo professor Bruno César Cavalcanti, a partir de um ângulo cultural, é possível entender em parte, essa distinção identitária.


1.      Professor Bruno, segundo alguns estudiosos, o folclore alagoano está entre os mais diversificados do Brasil, se não o mais, diante disso de que forma pode-se dizer que o folclore de Alagoas influi sobre outros segmentos culturais?
Há uma pretensão entre nós de falarmos com um certo orgulho dessa diversidade de expressões folclóricas em Alagoas, é um bom marketing que costumamos fazer de nossos territórios. Mas ele é grandemente mistificador porque isso foi de fato afirmado durante um congresso folclórico brasileiro que ocorreu aqui, salvo em engano em 1951 ou 1952. isso foi afirmado por folcloristas nacionais, particularmente por Renato Almeida e Tomas Cascudo, eles fizeram referências positivas à variedade do folclore alagoano, é um fato que existe essa diversidade bastante acentuada, em primeiro lugar isso decorre da nossa ruralidade, alagoas permaneceu sendo um Estado organizado em torno de um modelo de produção econômica de base rural, como é o caso da cana e açúcar. Essa presença rural deu uma parcela de importância grande nessa diversidade, as populações viviam em fazendas, viviam isoladas, eram levadas elas próprias a buscar suas formas próprias de entretenimento, é possível que isto esteja na base dessa diversidade, mais do que uma característica intrínseca. Deveríamos pensar também, qual é de fato a interferência que possa existir dentro de segmentos culturais locais, eu diria que essa influência poderia ser maior, mas ela não é por conta da nossa fragilidade em termos de identidade cultural, por exemplo, a cultura popular joga um papel muito grande na definição da cultura pernambucana, não é sem razão que a gente teve um movimento como o Manguebeat em Recife, que gerou uma tremenda influência da cultura pop internacional sobre as gerações da era do computador, uma geração marcada por uma cultura pop, mas que foi criada foi sociabilizada dentro de um quadro de pressão identitária muito grande, ou seja, o Manguebeat deu vazão por um certo sentido a uma demanda reprimida por uma cultura internacional eletrônica assentada no rock e por outro lado ela prestar contas com as tradições  locais, aos ritos populares como apoxé, maracatu, a música popular pernambucana,então o mangue é uma hibridização possível dentro dessa pressão em manter-se fiel à uma linha de continuidade popular, aqui essa linha de continuidade não é exigida, não há essa pressão, os grupos populares  não tem essa capacidade porque eles não foram abraçados pela nossa elite econômica e política, as pessoas não gostam das coisas populares daqui. Os folcloristas decantam muito a cultura popular tradicional de Alagoas, mas isso não se traduz na realidade, um jovem recifense está muito mais linkado com um mestre de cultura populares, enquanto que em Alagoas há um esforço divisor entre essas gerações de jovens que se expressam, e a base popular, artística, porque são segmentos que não se tocam.

OBS: Primeira parte.

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