segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Incrível Político Jânio

 
 “Sou um homem que presta contas a si mesmo”


   Certamente líderes notáveis, de realce imediatamente reconhecido, espelham-se em outros, que fornecem ampla admiração, traduzida por vezes no comportamento. É dessa forma que Jânio Quadros, o ídolo de Vila Maria (bairro da zona norte de São Paulo); o primeiro político de massas do Brasil, segundo Fernando Henrique Cardoso; o primeiro grande comunicador político a utilizar técnicas não-convencionais, segundo José Sarney; o autentico que encenava a si mesmo, segundo Carlos Lacerda, tinha Abraham Lincoln traduzido em seu espelho.

    Talvez mais impressionante que sua súbita elevação na carreira política, seja sua conduta, sua personalidade. O homem que falava de moralidade com as multidões, agia com inconfundível intimidade com cada um. Seus bilhetinhos, sua forma direta de expressar insatisfações com quem quer que seja.   Sua ambigüidade, inteligência e a paixão pela política. Jânio Quadros nutria verdadeira paixão pela essência da vida pública, pelos ditames do conservadorismo social.

    Jânio, desde a aparência até sua renúncia demonstra o quanto foi e ainda é intrigante, o quanto mesmo transparecendo paradoxos, ao fim de tudo se resume em coerência. Antiquado ao ponto de gerar insatisfações, esperto o necessário para causar surpresa. Há quem fale sobre sua demagogia, há quem fale de sua oratória incrível.



“ Não creio nas concessões demagógicas. Não creio na mentira das promessas. Não creio nos sufrágios da fraude. Não creio nos desmaios da Autoridade. Não creio na desordem administrativa. Não creio nas intolerâncias das filosofias e das confissões. Não creio nas ditaduras de qualquer tendência. Não creio na providência das espórtulas constrangedoras. Não creio no latifúndio anti-social. Não creio, enfim, no que se vê ao nosso alcance e à nossa roda, como se fora democracia, quando é a sua caricatura, a sua cárie! (...)
 Creio, sim, no império da Constituição. Creio na nobreza da Magistratura Suprema. Creio na autenticidade das Casas Legislativas. Creio na moeda sadia, com a qual se pague a despesa corrente e se amealhe o pecúlio do amanhã. Creio no proletariado consciente.  Creio na opinião garantida pelas franquias e limitada pelos códigos. Creio na livre empresa, embora circunscrita pela vantagem da comunhão. Creio na nossa maturidade, que nos impõe caminhar pelo mundo sem tutelas ou temores.”


- Discurso de Jânio Quadros no momento em que foi lançado candidato à presidência, na Convenção Nacional da UDN.

   Seria de fato, acertado dizer que um dos episódios mais intrigantes da política brasileira denomina-se no período em que Jânio Quadros renúncia à presidência do Brasil. Há versão para todo tipo, dúvidas intermináveis, há também um suposto depoimento do próprio Jânio para seu neto Jânio Quadros Neto, que mais tarde, em 1996, foi revelado no livro Jânio Quadros, Memorial à História do Brasil.

    Segundo o livro, a renúncia de Jânio Quadros foi uma tentativa de articulação política, que não passou de um surpreendente fracasso para o próprio presidente. Que contava com o apoio popular, acreditando que a opinião pública de um modo geral, não aceitasse sua renúncia e que as elites não aceitariam Jango na presidência, o comparando a Lula, que na década de 80 não tinha o apoio da elite brasileira.

    Considerando o efeito de outras renúncias.  Jânio achava que da mesma forma que Getúlio em atitude extrema provocou a paixão popular, que o mesmo ocorreria consigo, que o povo brasileiro iria às ruas exigir sua permanência na presidência do Brasil. Provavelmente a renuncia foi o maior erro que um dos grandes fenômenos da política brasileira poderia cometer. E os desdobramentos desta, sua maior frustração e de todo o Brasil.

“Quando assumi a presidência- eu não sabia a verdadeira situação político-econômica do país. A minha renuncia era para ter sido uma articulação. Nunca imaginei que ela teria sido de fato feita e executada. Renunciei à minha candidatura à presidência em 1960 e ela não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de Agosto de 1961 foi uma tragédia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso político da história republicana do país. O maior erro que já cometi.”

                 
Jânio Quadros, 25 de Agosto de 1991, Hospital Albert Einstein, São Paulo. Seis meses antes de seu falecimento.



    Há, no entanto, outras versões que diferem desta, no sentido de que o presidente sabia o que estava fazendo e renunciou pela forma que pensava, que Jânio tinha razões pessoais de personalidade para querer de fato governar de forma independente como fazia quando governava São Paulo. O que não poderia fazer em Brasília, posta a pressão dos partidos, das elites, das forças externas, das forças nacionais que segundo ele eram forças terríveis (que Getúlio as chamavam de forças ocultas) que mobilizavam os braços da democracia a tornando inofensiva. Talvez querer governar de forma independente como seu ídolo Abraham Lincoln, foi o seu erro, ser solitário demais na política, certamente não é política. Porém, inegavelmente, Jânio foi um político completo.


 

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