domingo, 11 de março de 2012

Duas Copas e Alguns “Brasis” no Meio

16 de Julho, 1950.


    A seleção brasileira abriu o placar aos 47 minutos com gol de Friaça. O Uruguai, 19 minutos depois, empata a partida com Schiaffino: o empate dava a vitória aos brasileiros. Entretanto, aos 79 minutos, Ghiggia vira o placar para os uruguaios, dando o segundo título ao Uruguai, em torno de 200 mil pessoas em silêncio veem o término da Copa de 50, o início de um famoso fato histórico para o esporte mundial “O Maracanaço” e o sonho de ser campeão se tranformar em frustração.

    Era um ano antológico para o país, o Brasil sediava a Copa do Mundo de Futebol após a Segunda Guerra Mundial, no dia 18 de Setembro foi inaugurada oficialmente a televisão brasileira e, portanto, a Copa não pôde ser transmitida, pois o evento ocorreu entre os dias 24 de Junho e 16 de Julho. Em 1950, apenas 20% da população brasileira era da zona urbana, contando com os 80% da zona rural, somavam-se 53 milhões de habitantes.

    Naquele ano, o atual presidente, Eurico Gaspar Dutra (PSD), além de receber a Copa do Mundo no Brasil, viu o então na época senador, Getúlio Vargas (PTB) ser eleito presidente do Brasil com 47,8% dos votos, marcando sua volta ao comando do país, ao som de sua marchinha colocando o retrato do velho na parede mais uma vez.

    Enquanto o mundo chegava a quarta fase da industrialização (ou fase final), os brasileiros conheciam apenas empreendimentos centrados na produção de bens perecíveis e semiduráveis, que por seu caráter imediatista, a oferta de seus produtos não passava do contingente da demanda, isso muda mais tarde com a política de indústria nacional pesada no segundo governo Vargas.

    Há pouco mais de dois anos para a Copa de 2014, o atraso nos preparativos para o mundial está extrapolando o limite da educação entre autoridades responsáveis pela organização do evento. Contudo, parece que já estamos acostumados com expectativas do gênero, pois o jornalista esportivo Teixeira Heizer descreve o clima da Copa de 1950: "O que havia naquela época era essa perspectiva sombria de que não ia dar certo, de que não íamos ter o estádio pronto a tempo da Copa. Era uma expectativa dolorosa de que não íamos fazer a coisa a tempo, como hoje também". Os cariocas temiam que o Maracanã não ficasse pronto a tempo.

    Em 2014, o filme é parecido, será ano de eleição presidencial e assim como Getúlio Vargas, o provável é que a atual presidenta Dilma Rousseff (PT) tente reeleição, caso o ex-presidente Lula não queira ser candidato novamente. Mais provável ainda será o clássico embate entre PT x PSDB. Embora as semelhanças, entre as duas Copas são 64 anos de incríveis transformações nos mais diversos aspectos.

    Nesse meio-tempo o país passou por um regime militar, redemocratizou-se, presenciou o impeachment de um presidente, viu a renúncia de outro, conheceu altos e baixos na Economia até se estabilizar com o Plano Real em 1994, então a partir daí entrou numa fase de desenvolvimento contínua. Abraçando a ideia de abertura para a política externa e prezando por boas relações internacionais, aos poucos a nação que se entristeceu com a derrota na Copa de 50, começa a vencer, especialmente a partir da década de 90. A população saltou de 53 milhões para quase 200 milhões, indicado pelo último censo realizado em 2010.

    O Brasil saiu da posição de indústria baseada em produtos perecíveis, para a 6° economia do mundo, e estimativas contam que o país será o 5° mais rico em 2014. Houve significativa redução da pobreza. Na década de ouro o evento foi realizado em seis estádios de futebol, em 2014 será o dobro. O próximo evento será infinitamente distinto daquele em que o Brasil foi vice-campeão, serão 64 anos de fatos decisivos, é outro país, outra realidade.

    Estão sendo gastos com a Copa do Mundo cifras de dinheiro a se perder no horizonte, mudanças na infraestrutura bastante significativas serão feitas. Apesar de todos os problemas, divergências, atrasos, no ano da próxima Copa do Mundo de Futebol, o país sede já é uma potência econômica e em 2014 será ainda maior. Será um evento essencialmente distinto daquele precário que foi em 1950, foram muitos “Brasis” nesse tempo, o caráter social encontra-se em outra dimensão, a política e seus agentes vivos trabalham desde já para a eleição de 2014, a economia brasileira conheceu a saga descrita por Miriam Leitão e estará numa proporção que seria impensável em 1950. Entre 12 de Junho e 13 de Julho de 2014, será visto em campo o efeito de muitos “Brasis” ao longo da história nacional.











2 comentários:

  1. Bacana, Jéssica. Já nem lembrava dessas coincidências. Antigo PSD criado pouco antes da Copa (assim como o novo), Ex-presidente populista de volta ao poder, nacionalismo mascarando os problemas pré-históricos do país, Europa se recuperando da guerra (hoje é a crise econômica)... Mas as coincidências param por aqui, não acho que o Brasil volte a ganhar da Espanha por 6 x 1.

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