domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Plano de Maquiavel para a Imprensa

  

 "Usar a imprensa, usá-la de todos os modos, essa é, hoje, a lei dos poderes que pretendem viver"


    Podem-se admitir perfeitamente concepções distintas e necessariamente opositoras. Porém, a ideia de que a imprensa opera como ferramenta de manutenção da democracia, em nada foge aos ditames sociais do presente. Evidentemente não há homogeneidade na imprensa, mesmo no sentido de reproduzir o poder em todas as suas características e implicações. Há de se convir, que existem segmentos da imprensa que adotam diferentes óticas de entendimento político, exatamente por conterem distintas afinidades junto aos governos.

    Em detrimento de organizações ditatoriais, as distinções políticas conferidas aos jornais, por força maior, são reprimidas. Neste sentido, Nicolau Maquiavel, com uma fascinante lucidez ao tratar de política, expressou abertamente seu projeto de governo ditatorial, para tratar do segmento mais delicado de um governo através da força.

    Ao ser questionado por Montesquieu, no livro “Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu”, Maquiavel discorre sobre como deverá agir um príncipe perante a imprensa num regime absolutista. Em seu tempo, o autor de “O Príncipe” descreve a imprensa europeia no século XIX. “Na maior parte dos países parlamentares, a imprensa tem o talento de tornar-se detestável, pois está sempre a serviço apenas das paixões violentas, egoístas, exclusivas. Porque ela denigre por conveniência, generosidade e patriotismo; enfim e, sobretudo, porque você nunca fará compreender a grande massa de um país para o que ela pode servir.”

    Através de estratégias mercadológicas, e neste sentido propõe-se um abuso na cobrança de impostos. Legislativas, para os momentos mais críticos. A ideia é controlar todos os que fazem a imprensa, mesmo os jornais do exterior devem ser banidos, fazendo-se patrulha nas fronteiras a todo e qualquer panfleto de caráter oposicionista, comprando as agências receptoras de informações de outras regiões.

    Mas estas não passam de ideias comuns aos governos absolutistas, o projeto de Maquiavel vai além do império da força. Ciente do espaço conferido às empresas de publicidade, e neste caso aos jornais, ele propõe que seu governo torne-se o próprio jornalismo, criaria o dobro de jornais em seu favor, considerando a quantidade destes que se opõem ao seu regime.

    Sugere montar um sistema para a imprensa de forma que tudo fosse controlado e previamente pensado, os jornais que em tese, criticariam superficialmente o regime, os apoiadores e, os neutros. Tudo seria feito de modo que a opinião pública entendesse que os jornais possuíssem liberdade para tratar de política sem amarras. Essa falsa sensação de liberdade seria concretizada quando, os jornais que supostamente criticassem o governo, tivessem que tornar público uma nota do próprio governo colocando que a informação do periódico não era verdadeira, de que eles possuem liberdade de expressão, no entanto publicam notícias falsas, colocando dessa forma, a própria opinião pública contra o jornal.


    Os mecanismos explicados por Maquiavel para o controle de toda e qualquer informação, de fato é algo grandioso e muito bem pensado, na riqueza de detalhes que proporciona assim um sistema eficiente para seu tempo. Embora tão bem elaborado, hoje, existe uma interação que poria a baixo todo o sistema de controle elaborado pelo príncipe.

    A globalização permite que todas as partes do mundo, possam saber o que ocorre em outras regiões. Hoje, não dá mais para impedir a interferência da imprensa do exterior, sobretudo através da internet, talvez a ferramenta mais importante neste sentido.

    Embora haja expressiva evolução no reconhecimento da importância da imprensa de modo geral, toda a manipulação pensada por Maquiavel para manter vivo um regime absolutista, mantém-se abertamente ou não. Através da imprensa, o poder público chega a manipular a opinião pública. Em alguns países, alguns jornais declaram abertamente suas afinidades políticas, todavia, com a bandeira de imprensa independente, alguns veículos de forma invisível para o público comum, agem mesmo no sentido de direcionar criticas num formato tendencioso traduzido pela opinião pública como a verdade.

    Há quem confie que o aparente caráter de neutralidade, mesmo que por vezes desonesto, é fundamental para manter a confiabilidade. Talvez a problemática maior seja mesmo a confiabilidade inconsciente que caracteriza o censo comum e certamente define os líderes da política. De todo modo, o engenhoso projeto absolutista de Maquiavel para amordaçar a imprensa, se valendo do próprio jornalismo, mantém-se vivo, mesmo em concorrência com a ampla transparência proporcionada pela contemporaneidade, ainda assim, a política exige lados.

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