É estarrecedor abrir a
Folha de S. Paulo e saber que uma equipe de jornalismo foi lamentavelmente
impedida de realizar seu trabalho porque autoridades da Indonésia a detiveram
por alguns momentos e retiveram passaportes dos profissionais. Evidentemente é
natural que eu, enquanto jornalista, sinta completa indignação com o episódio,
mas nada é pior do que ler o inverso.
Observar a opinião alheia
é um hobbie bem particular, e como
tal, sempre externo algumas conclusões verbalmente ou não. De modo que não é
incomum constatar o quanto há de contradição nas pessoas de um modo geral. Quer
dizer, ver centenas e centenas de internautas no gozo de sua ‘liberdade de
expressão’ apoiar claramente e até defender o assassinato dos mesmos jornalistas
é extremamente contraditório. Posto que enquanto concordam e defendem a tirania
contra a liberdade de imprensa, o fazem unicamente porque são (ainda) providos
de alguma liberdade.
Isto, de todo modo
reflete convergentemente para um termo que normalmente esses mesmos internautas
saúdam: a democracia. Mas que
democracia? Notadamente o público
diversificado como ele é, mas ao mesmo tempo uníssono para desejar ‘democracia’
clama pela idealização dela, não sua versão pragmática que a cada momento altera-se
para mais ou para menos, mas o mais politicamente correto possível, talvez por
um pouco de medo do julgamento alheio.
Cairia muito bem uma
(nem que breve) reflexão que oferece Robert Dahl ao tratar de democracia.
Quando a Grécia antiga vivia uma ‘democracia’, quando tudo não poderia ser
feito, e participar da vida política era prerrogativa de homens livres e acima
de 21 anos, você poderia tomar o impulso e exclamar: Mas isso é democracia?
Bem, eles excluíam escravos, mulheres e estrangeiros do processo político, mas
definiam seu sistema amplamente democrático tal qual acreditamos que hoje
façamos parte de um.
Muitos outros,
inclusive, apoiaram uma hipotética censura ao humor no quesito religião. Essas
pessoas que julgam fortalecer um regime democrático agora concordam que deva
ser obrigatório não fazer piada e ou não externar livre manifestação sobre
religião. Na vida prática seria: Você não poderia ridicularizar nenhuma
religião, os governos imporiam um dogma universal e por mais que você não dê a
mínima para uma religião, você não pode ‘desrespeitá-la’ e pronto, mas sua
convicção pessoal poderia ser arbitrariamente censurada.
Batizada na igreja
católica e adepta do Cristiano sim, mas evidentemente nada me leva a amordaçar
alguém se ele quiser fazer ‘picadinho’ da imagem de Cristo enquanto figura
fundamental para o catolicismo. Se assim
eu fizer, não estou sendo cristã, estou sendo apenas tirânica e impondo minha
crença sobre a opinião de outro individuo. O livre arbítrio é um belo exemplo
de direito de escolha, mas perfeitamente espera-se decisões morais dignas. Por mais que criticar uma religião não seja
tido moralmente aceitável, mais imoral é sem dúvida calar a convicção do outro
porque você não acredita ser agradável.
Não, eles não querem
liberdade e esse é o nosso maior problema, haja vista ser imprescindível a
evolução do pensamento filosófico de cada indivíduo para o aperfeiçoamento da
civilização. De outro modo, estamos a passos curtíssimos, quase parados
enquanto aqueles espalham verborragia para justificar o retrocesso em forma de
respeito. Respeito à tirania que agora dão o nome de ‘politicamente correto’,
mas uma extravagância moral que desvirtua o maior sinônimo da evolução humana:
a liberdade.